O ELOQUENTE SÁBIO

Um Sábio homem proferia silenciosamente o seu discurso. Nem abanos no ar. Nem entoação. Nem entonação. O vácuo prosódico imperava.

Somente negava a tudo. Não falava. Não criticava. Não escrevia. Não chorava. A tudo - sem nada argumentar – dizia “não”.

Seus lábios mornos. Seu olhar cativante. Seu sorriso aberto. Seu corpo a falar: “Não!.” Assim, a multidão o seguia. E ele ensimesmado no silêncio a refletir.

A criança falava. A mulher falava. O homem falava. O ancião falava. O Sábio ouvia, somente ouvia.

Sem nada dito pelo Sábio, os homens reticentes, exclamativos, afirmativos: aprenderam.

Em um dos seus mais eloquentes discursos o Sábio sentou-se ergueu os olhos ao céu, juntou as mãos, e, escutou sem nada dizer – aos felizes por isso – um número de duas mil setecentas e dezessete pessoas. Sentiu-se feliz e em paz passando a proferir por extensos quinze segundos um largo e imenso sorriso.

(Marcio J. de Lima – 08/nov/2010)