Caquis

Em minha infância, sempre que podia, ia passar minhas férias, ou mesmo alguns finais de semana, na casa de minha avó. Era uma grande casa, com um enorme quintal onde havia um pomar, uma horta, alguns animais como codornas e galinhas, que às vezes eram vendidos aos moradores da pequena cidade onde ela morava.

Em tudo isso, o que mais me intrigava, era a grande procura que havia por parte das pessoas, na época dos caquis. Era considerada de todas as frutas dali, a mais deliciosa e por isso a mais procurada. Eu não entendia, pois para mim todas eram iguais, desde que me aventurasse a subir na árvore e colhe-las, eram todas deliciosas.

Um dia, perguntei a minha avó o que acontecia com os caquis, por que diziam que eram diferentes. Minha avó me levou ao pé, apanhou um e pediu que o comesse. Ele era muito gostoso. Então, ela me levou a um pequeno cômodo no fundo da casa, o qual vivia fechado, entrou, pegou um caqui lá de dentro e me deu para experimentar. Imediatamente, percebi que aquele era muito mais doce, mais saboroso. Mesmo sabendo que não havia sido colhido naquele momento, seu sabor era realmente muito diferente.

Minha avó então, com toda sua calma e simplicidade, me levou para dentro do pequeno cômodo. Lá haviam várias bandejas cheias de caquis, e um cheiro muito forte no ar. Eu não entendi nada... Foi então que ela me disse que tudo aquilo que eu estava presenciando, um dia iria me fazer entender muitas coisas referentes à vida.

Os caquis tão procurados, passavam por um pequeno segredo. Ao serem colhidos, eram colocados em um ambiente escuro, e em suas coroas, era colocado pinga ou vinagre. Era isso que os fazia ficar tão doces, tão saborosos.

Foi com o passar dos anos que pude compreender o significado das palavras dela. Muitas vezes, em nossa vida, acreditamos que estamos prontos, no ponto para algo, porém, são certos dissabores da vida, o silêncio, a maturação das idéias que nos farão amadurecer verdadeiramente e com o grande gosto de vencer.

São Paulo, 1998.

Lucia