Caminho de casa...

O caminho que percorro na volta do trabalho para casa, oferece, generosamente, um dos espetáculos mais grandiosos da Criação, que é a companhia do mar e suas ricas nuances de verdes e azuis. Tenho por hábito percorrê-lo com vagar, espiando curiosa e divertida as evoluções das pequenas ondas que se enroscam graciosamente em inocentes empurrões como a querer passar à frente uma das outras para vir brincar à beira d’água. Ontem, com os sentidos aguçados de um perdigueiro, procurava identificar cada cheiro que chegava até mim junto com a maresia e, subitamente, senti o mais sublime deles, o dos sargaços, que têm o cheiro da inocência da minha infância. Ah!...é este o cheiro que carrego impregnado à alma para sempre...Surpreendentemente, caminhei por uma estradinha estreita, ladeada por uma vegetação peculiar e quase intransponível, que brota luxuriante à beira do mar, e me encontrei naquela praia quase deserta de Madre de Deus, quando tudo era tão puro e quase selvagem. As ondas se transformaram em montanhas de saudade; as cores brilhantes daquelas manhãs incidiram sobre meus olhos de criança...os cheiros das marés na madrugada despertaram uma avalanche de sentidos, despedaçantes como encouraçados...pequenos diamantes e pérolas piscavam para mim nas areias ignoradas pelas minhas pegadas infantis e as conchinhas desprendidas das caudas das sereias, como vestígios de sua passagem, nelas afundavam momentaneamente. Então, apalpo a minha alma, segurando no peito o coração e me percebo pedaços de vida perdidos nos vestígios de minhas lágrimas...

Guacira Maciel
Enviado por Guacira Maciel em 28/01/2013
Reeditado em 29/01/2013
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