Mortes em vão

A tragédia de Santa Maria nos põe em contato com a nossa mortalidade e fragilidade, mostrando-nos que podemos perder nossa vida a qualquer momento e que, por isso mesmo, ela precisa ser valorizada e respeitada. Os donos da boate pensaram apenas no lucro, não no fato de que eram responsáveis pelas dezenas de vidas que ali se encontravam. Se tivessem tal consciência, não teriam sido tão irresponsáveis e egoistas, negligenciando a sua obrigação de garantir a segurança do lugar. Tudo isso nos revolta e entristece porque nos dá uma certeza: a tragédia poderia ter sido evitada.

Hoje, o Brasil chora as mortes de mais de duzentos jovens cheios de planos, que queriam e tinham direito a viver, eram amados por suas famílias e acreditavam que, após o show, iriam voltar para suas casas e rotinas, não imaginando que viam seus familiares e amigos pela última vez e não fariam o que pretendiam no dia seguinte. E os pais, que esperavam pelos filhos, foram surpreendidos com a brutal notícia de que seus filhos estavam mortos. Esperavam que seus filhos tivessem vidas longas, realizassem seus sonhos e tudo o que restou de tantas esperanças foram corpos para enterrar, encerrando vidas cheias de expectativas, calando para sempre vozes que nunca mais serão ouvidas. Nenhuma palavra poderá consolar os que perderam seus filhos, amigos, namorados, primos ou colegas, porque uma vida humana nunca se recupera. Quando perdemos algo material, nós podemos adquirir outro igual ou receber uma compensação em dinheiro. Mas, e uma vida? Uma vida não tem preço. Nenhuma indenização pode compensar os pais que nunca mais verão seus filhos nem os abraçarão. O que resta, então?

Resta lutar para que as mortes não sejam em vão. Devemos lembrar esses jovens, que, por irresponsabilidade, tiveram o seu direito à vida violado e não podem reclamar na Justiça. Honremos a memória dos mortos, não permitamos que eles sejam esquecidos e se tornem apenas meras estatísticas. Unamos o nosso grito aos dos que os perderam e não mais os verão.

Fazer justiça não compensará os pais, que ficarão com um vazio em suas vidas, mas fará com que outras mortes sejam evitadas por causa dos que não valorizam a vida como se deve.