O meu querido pé de umbu (Lembranças do quintal da minha avó!)

De tamanho mediano, dizem que natural la do Nordeste, inquilino verde e retorcido, morando há mais de cinquenta anos, o fundo do terreiro, na divisa do quintal. Desde quando me entendo por gente, ele, silencioso e gentil, ali está. Não está lançado ao alto, sem braços e cheios de espinhos, como os coqueiros do quintal. Seu contorno nao é grosso e áspero como o corpo da mangueira. Seus modos são genuinamente carinhoso e foi através dele, lembro-me com saudades, que nós, crianças ainda, nos arrsicamos a deixar o chão para galgar intrépidos os seus galhos sinuosos e baixos.

A enorme quantidade de galhos nos permitia passar de um lado para o outro de sua copa, sem amargar o risco de uma queda. Suas folhinhas miúdas, levemente azedinhas, era pacientemente experimentada pela nossas línguas de guri. Já o fruto, quando maduro, totalmente macio e amarelado era colhido com as mãos e deleitosamente levado á boca.

Primeiro uma leve mordida para sorver o suco adocicado/azedado, depois roer a polpa de fibras, deixando ao final, só o caroço.

Pé de umbu, sempre te olho e admiro a tua idade. Descalço, sem camisa, de short curto, ainda um pequenino, para brincar de subir, um dia busquei os seus braços. Hoje, homem, pai de dois filhos, cabelos brancos, fico a lhe admirar. De natureza nordestina foi plantado (?) ou nasceu (?) no quintal bem antes de mim. Recordo que assim como eu, outros pequeninos da família, repetindo o meu desejo e a minha história,

também se aventuram na calma adrenalina dos seus braços. Amo a sua doçura de permitir e nunca machucar. Tantos pequeninos que ja o escalaram e nunca soube de nenhuma queda. No seu colo amigo de árvore, jamais alguém quebrou um braço. Continua ali, firme, amigo pra todas as horas, divertindo os inocentes pequeninos. Homem grande que agora estou, não canso de te olhar. Gosto de ver que serenamente e amigavelmente desafia o tempo. Lá na frente do terreno há muito que morreu o coqueiro da bahia, o pé de carriola plantado na lateral do quintal já nao existe mais e também foi se embora o abacateiro, o pé de laranja, o pé de amora, o cajueiro e tantas outras plantas do quintal. Você, meu doce pé de umbu, meu companheiro de infância, meu colo de menino, atravessa janeiro a janeiro, ninando, amorosamente, os pequeninos. Você, pra mim, é mais que uma árvore, é uma semente de amor e alegria que no fundo do quintal o meu avô plantou!