O dia em que o sol floresceu...

"Não temas que amar não te forçarei,

mas é cedo demais para que eu te liberte".

(Sarastro à Pamina -A flauta mágica)

Hoje o sol brilhou acima das nuvens e me viu de frente. Eu sorri. Pela primeira vez há muito tempo fui capaz de ter esperança, de antever uma possibilidade futura. Os dados estão víciados, mas não tenho medo.

Sabe a solidão conforta, os livros enlouquecem, mas o mundo existe. O segredo da mais esperta borboleta a fulgurar no outono. A estação em que as noivas pairam nos céus...

Eu sinto meu ouvido um pouco estranho, tenho tido conversas estranhas, precisado caminhar um pouco. Falta de ar, como faltam idéias. E contudo, eu ainda tento apreciar uma boa arte.

Queria ser apenas romântico, ou ser apenas eu, sem me emprestar aos rótulos. Queria sonhar, com uma distância vencida, com o sonho realizado. E no seu céu eu vejo flores.

As mentiras talvez me convença que existe uma verdade, assim como o espelho, ao me mostrar o grotesco, mostra-me a possibilidade da beleza.

Eu sorri, sem medo, como louco, como cético, como artista bêbado que acaba de sair da noite para um amanhecer real, plenamente real que lhe ardem os olhos. A boêmia não serve para mim.

Eu vejo o céu como um caminho constelado de oportunidades sem par, que ao estender as mãos eu toco em seu rosto, como toco em minha face para lembrar que ainda vivo.

Mas o que importa é o presente, o presente da natureza... queria te ter aqui e não posso, pois hoje meu sol floresceu, como uma flor que flana na escarpa mais inacessivel, habito o mundo que somente um outro sonhador poderá, talvez, um dia avistar.

Ev
Enviado por Ev em 14/03/2007
Reeditado em 14/03/2007
Código do texto: T412497