Amor e Paixão

“...nos bons e nos maus momentos...” Assim como no casamento, onde o amor une duas pessoas, o futebol une o indivíduo a um clube, nas vitórias e nas derrotas; não há forma de mudar, é algo que transcende a razão.

Está aí a essência do amor, não há razão que explique, não há quem não entenda, não há quem não ame.

Quando nascemos não escolhemos o local; nascemos sob uma nacionalidade e sabemos, de antemão, nossas responsabilidades e direitos, assim como por qual seleção torceremos quando houver uma disputa; é natural, sem questionamentos; Ok admito que algumas vezes surgem razões para que este padrão de comportamento se altere (país em crise, decepção com políticos; mensalão, cuecão e afins), em muitos casos, interesses pessoais ou quaisquer outras razões, mas isto faz parte da exceção, são poucos os casos onde se torce contra “sua própria” seleção; há, sim, casos onde a indiferença existe, quer seja por motivos profissionais, ou até mesmo a pura indiferença...Seleção é uma paixão momentânea que pede passagem a este amor que vive nosso dia a dia; guardamos por instantes, quando o país entra de chuteiras nos gramados, mas sem nunca esquecer de nossos representantes, aqueles que levem por baixo da camisa da seleção todo o amor pela camisa de nosso clube, um pedacinho de nosso verdadeiro amor. Um gol da seleção sempre será comemorado, mas se ele for feito por alguém de nosso clube ou surgido e identificado com nossa gente, então terá um grito adicional, uma vibração especial...Vivemos o dia a dia do clube, cada momento faz parte de nossas aspirações e de nossos sentimentos, fazendo parte de nossa vida assim como tudo o que nos torna um ser pensante, repleto de sonhos, sentimentos, alegrias, frustrações... O amor, vivido diariamente, aumenta a intensidade da dor diante do fracasso, da derrota, do desdém da pessoa amada; torna-se tragédia, traz angústia pela derrota, pelo não recebido; dá nos prazer, alegria e sentimentos indescritíveis nos momentos de vitória ou do beijo tão aguardado. Assim é o amor, alegrias e tristezas, intenso e sem razão; assim é o futebol, a paixão pelo clube, suas alegrias e as tristezas...Como viver sem os jogos do meu time todos os fins de semana? É como a pessoa amada, que viaja e deixa aquele sentimento de vazio que não sabemos preencher, somente esperamos, certos de sua volta, o retorno de um amor que jamais deveria ter ido, mesmo que de maneira temporária. Para quem ama, ficar longe do convívio é extremamente difícil, nos dá vazio, eterna angústia da ausência. Mas sem jogos da seleção vivemos sem ao menos nos dar conta de que estes não aconteceram.

Mas de onde vem este amor por um clube? Acho que poderemos enumerar diversas razões aparentes, mas como no amor, não há razão plausível, são conjecturas.

A mesma coisa o Amor; o amor surge sem explicação, sem esperarmos, de repente ele está lá, tornando nossos dias mais felizes, ensolarados e com uma brisa suave que toca nosso rosto, nos dá um certo rubor, e sem querer parecer piegas, torna o dia-a-dia da nossa vida algo melhor; o amor não tem um porquê único; há um conjunto de variáveis, fatos e condições que nos levam a este estado que nos faz literalmente levitar... Quem ama sabe que não está só e, acredito nisto, é o que nos faz dar aquele sorriso assim que acordamos, e claro; nos proporciona uma aura de tranqüilidade e segurança em nossas noites de sono; muitas vezes reconfortantes ao lado da pessoa amada.

Costumo dizer que o amor, para mim, é algo inexplicável repleto de bolinhas coloridas, que enche a vida de alegria.

Difícil dizer a razão que leva alguém a torcer por um clube, ao menos aqueles que não sofreram a influência direta de um ente querido. Um clube ganhador pode ser uma razão, levando para si grande torcida – São Paulo, por exemplo - assim como um perdedor pode ter sua torcida crescendo e contrariando esta tese corrente – meu Flamengo -influência direta ou indireta, explicada ou não, este amor nasce, cresce e permanece ao longo dos tempos; ganhe ou perca, não há mais como mudar, jamais se admite “virar casaca”; mudar de clube é uma heresia digna de quem não gosta de esporte, afinal vencer é um pequeno e importante detalhe.

Trocar de amor significa não ter amado; quem ama não deixa, afinal a convivência pode causar certos enganos, confundindo amor com sentimentos de apreço e lealdade, temporários, e somente alguém especial e único será capaz de proporcionar estes sentimentos que serão vividos ao longo de toda a vida; O Incrível é que esta paixão nos convence que vencer nem sempre é um detalhe, é a única razão do jogo.

Para alguns torcedores vencer pode significar estar ou não feliz, podendo ser uma das variáveis que compõe seu humor...Pensando bem, a seleção é a paixão, momentânea e sazonal; E o clube que torcemos representa o amor, repleto de paixão, que no dia a dia nos conquista e se renova, nas alegrias e nas tristezas, nas horas boas e nas ruins, para sempre...Afinal sempre digo que prefiro viver meu amor, único e precioso, a ter inúmeras paixões.

Mas como ter certeza do amor verdadeiro? Basta olhar nos olhos e ouvir a voz do nosso coração; prefiro viver este amor, intenso, todos os meus dias, do que me resguardar, ter medo de amar, medo de perder; viver, conviver, amar, ser feliz...

Quem tiver uma fórmula me avise, pois poderei dá-la aos amigos; Já que o amor, este já descobri e não poderei deixá-lo jamais, no futebol, na vida; assim como deve ser com cada um de nós, que vive o futebol, que vive a vida.

Há muito mais em um domingo de sol do que simplesmente sol de domingo...

Após isto, só nos resta viver...

Tânia Aranha
Enviado por Tânia Aranha em 08/08/2005
Código do texto: T41319