SARA

Conheci bem pouco a Sara, mas nas poucas vezes que a encontrava consegui absorver tudo que ela dizia, inclusive a ideia fixa de suicidio...

SARA

Sara se enforcou , desistiu dos sonhos...

Só no cemitério soube que não se chamava Sara, era o nome de guerra. Sara mãe, Sara filha, Sara vó, Sara amante, Sara ébria e Sara acima de tudo mulher...

Mulher que amava o trabalho, ágil como uma máquina de tudo sabia fazer um pouco, uma artista doméstica.

Lembro seus olhos miúdos e sagazes me falando em planos futuros e seu sorriso escancarado quando me dizia:

-Queria ser como voce/1

Sara não sabia, mas ela era elegante quando me dizia que foi prostituta para cuidar dos filhos, que foi empregada doméstica, que apanhou de homens que a obrigaram a se prostituir..

Seu rosto sardento ficava vermelho, Sara era toda emoção, tudo nela fluía à flor da pele.

Ganhou uma canoa com motor, e voava no lago pra la e pra cá, era dona do vento, dona de tudo.

Essa liberdade não a fazia esquecer das dores, lágrimas marejavam seus olhos quando lembrava do filho na prisão.

Sara jovem ainda já era avó de muitos netos...

Tudo para ela foi rápido desde a infância que não viveu até o final que escolheu.

Angustiada ela deita na rede, não consegue se acalmar, é um domingo à tarde, o por do sol a chama e ela quebra tudo da casa,...

Assim se extravasa, mas não sai a dor do peito... resolve então que a vida não vale mais a pena..

E sorrindo tira a corda da rede e faz um laço, sobe na cama e com um salto fica dependurada imóvel...

Se despediu da vida... ou será que se vingava do mundo que tanto a machucou?

Sara se foi e deixou sua marca na pedra onde pescava, no rancho, no ar do cerrado, na saudade e mais ainda na solidão dos sonhos quebrados que a fez partir tão depressa...