O indesejavel

Juvenal era doido por uma fofoca. Frequentava o boteco somente a cata de novidades. Quando ele adentrava o recinto, o proprietário olhava enviesado. Não podia ser considerado freguês, um cara que passava minutos e às vezes horas bebericando um refrigerante (Juvenal não bebia nada alcóolico) e escutando conversa alheia. O homem nunca pedia tira gosto, apesar de em algumas ocasiões ficar tal qual um cachorro vira-lata, de olhos fitos nos salgados da estufa. Na igreja também não era bem vindo. Pois passava todo o tempo cochilando, mas assim que acabava a missa, o sujeito ficava bem desperto rodeando as pessoas, de ouvido espichado. Alguns paravam de falar quando ele chegava e aguardavam impacientes que ele se afastasse. Juvenal era solteirão, e em toda sua vida, namorara apenas uma vez. O namoro durou apenas um mês, pois a moça se cansou do namorado que queria saber apenas dos assuntos familiares. Especulava sobre a vida dos sogros, dos cunhados e ate de parentes distantes. Em pouco tempo toda a cidade se inteirou de como viviam, a quem deviam e até oque comia a família da namorada. Não havia segredo que Juvenal desconhecesse. Gravidez, dívidas, subornos, roubos, traições ele sempre descobria e logo bilhetes eram fixados nos postes e paredes. Todos sabiam que era ele, mas nunca o pegavam em flagrante. Certa manhã um cartaz apareceu colado no coreto da praça. Nele estava escrita toda a vida medíocre do fofoqueiro, além de algumas inverdades. O conteúdo era tão pesado, que as beatas da cidade liam e se benziam afogueadas. Os cachaceiros gargalhavam entre um gole e outro. As moças liam e se afastavam com o rosto vermelho. As senhoras casadas cochichavam entre si com ares de satisfação pela descoberta. Os botequeiros cofiavam os bigodes e sorriam deliciados. O certo é que não apareceu o autor do cartaz, mas os moradores suspiraram aliviados, quando viram um caminhão de mudança encostar e levar para longe o incomodo vizinho. Juvenal que passou a vida entre fuxicos e difamação, não suportou o gosto do próprio veneno.