A certeza da dúvida
Hoje, numa quase noite na Vergueiro, frente ao Centro Cultural, sentei-me num banco de madeira abaixo de uma árvore pelada, peguei meu bloco de notas e uma caneta, e assim veio pequenos versos do "Poetisa(ndo) na Vergueiro", e porra... Nunca me veio uma sacada tão bacana; poetisa...ndo, algo tinha que dar certo naquilo.
Pus na folha ideias sobre de como a cidade é bem mais bonita jogada numa folha de papel, e assinei: um presente de uma desconhecida. Diabos, eu ia dar aquilo pra alguém, ia mesmo! Eu estava louca, mas já não tinha mais o que fazer, a poesia me tomou por inteiro, tomou minha alma e razão, tudo era poesia e eu tinha que fazer alguém se sentir do mesmo modo, nem que por pouquíssimo tempo; um pouco de poesia à vida!
Quando terminei, esperei alguém passar, mas poucos pareciam dar-me atenção; eu os devorava com os olhos, tentando desvenda-los, e a maioria, fingia que não me via, pareciam julgar-me louca. Mas hei que um senhor muito baixo e gordo sentou-se no banco ao lado, e observou tudo atentamente, como eu fazia, inclusive a mim. Dava uns goles na cerveja e encarava tudo brutalmente, despertando medo em quem o olhava de volta. Era ele, não poderia ser outro...!
Tomei coragem e caminhei ate ele, quase numa marcha.
- Com licença.
- Sim? ele disse numa voz de trovão
- Aceita um presente?
- Depende.
Sorri, peguei meu bloco (e ele encarou como se pegasse uma arma),arranquei a folha e a dei para ele. O senhor sem cabelos e uma barba grande e branca, pareceu sorrir, mas de um jeito que só ele sabe.
- Tchau. eu disse e sai caminhando.
- Tchau...
Não olhei pra trás, continuei minha marcha para o lado contrário com um sorriso que vinha de orelha à orelha, com aquela dúvida dos infernos, que dúvida infeliz! Ele gostou ou não? Sorriu ou não? Fez sentido pra ele ou não? Rasgou ou guardou? Que dúvida! Que dúvida! E essa dúvida que fez cada pedaço do meu ser pular de alegria por cometer aquela coisa tão incerta.