A mulher no dicionário e na vida.

Na minha juventude, foi um choque! Nos anos 70, nos tempos da contracultura, das grandes turbulências no cenário político, tempos de dores e horrores, dos grandes questionamentos, quando se começou a falar que o mundo seria uma aldeia global, a escritora e jornalista Heloneida Studart publicava o seu livro “Mulher: objeto de cama e mesa”. Realmente não foi fácil ler o título do livro, mas o conteúdo era altamente provocador e, através de pequenos textos e imagens, a autora tratava da condição da mulher, seu corpo e sua representação, de forma bem chocante capaz de tirar da inércia pessoas que, automaticamente, diziam: “ É assim mesmo. Sempre foi assim”.

Somente em 1975 foi decretado pela ONU: o dia 8 de março seria comemorado o dia Internacional da Mulher.

Relembrando a história: foi no 8 de março de 1857 que operárias de uma fábrica de tecidos de Nova Iorque resolveram fazer uma greve, ocuparam a fábrica e passaram a reivindicar melhores condições de trabalho, tais como, redução na jornada de trabalho para dez horas (as fábricas exigiam 16 horas de trabalho diário), equiparação salarial com os homens (as mulheres chegavam a receber até um terço do salário de um homem para executar a mesma função) e tratamento digno.

A manifestação foi reprimida com um violência tão brutal que as manifestantes foram trancadas dentro da própria fábrica e a mesma foi incendiada, provocando a morte por asfixia de aproximadamente 130 tecelãs.

Resolvi buscar no dicionário – no grande Mestre Aurélio - algumas definições para homem e mulher:

HOMEM - Marido ou amante, aquele que, numa equipe de trabalho, executa ordens de seus superiores, homem de ação, indivíduo enérgico, ativo expedito, diligente, homem de empresa, homem de estado, homem de prol, homem de pulso, homem-feito. (p. 344)

MULHER – cônjuge do sexo feminino, mulher à-toa, mulher da comédia, mulher de rua, mulher da vida, mulher da zona. (p.446).

Terrificante!

Enquanto milhões de mulheres por esse mundo se confundem, se diminuem nas letras de música, nas atitudes, nas roupas, aceitando piadas ou palavras pejorativas, vendo com indiferença a boçalidade do destempero verbal, existem outros tantos milhões que entendem o que é ser mulher.

Ser mulher é ter visão de mundo, muitas vezes calada, mas com o olhar de que é possível a paciência para o entendimento das diferenças. O olhar profundo de que é preciso viver, sonhar, lutar, inventar portas para abrir onde se vê grossas paredes de ignorância e de desrespeito.

Ser mulher é ir além da poesia. É buscar a comida para o filho quando não há pai. É se levantar mais cedo – bem mais cedo – porque o café tem que ficar pronto, a lancheira do filho tem que estar em dia, bem como a roupa, o cabelo penteado e o coração inteiro, pois ontem o pai ralhou e disse que “a casa iria cair se não fosse do jeito dele”.

A mulher é aquela que inventa alguma desculpa para sair um pouco mais cedo do trabalho porque o filho perdeu ou esqueceu a chave de casa e não pode ficar na rua.

Mas, antes disso, a mulher é aquela que aprendeu mais rápido a respeitar os mais velhos e também não teve vergonha de ajudar alguém em situação de dificuldade e não riu da miséria alheia. Não, mulher odeia sadismo ! E chora mais facilmente quando percebe o sofrimento alheio e não pode dar a mão.

É aquela que consegue ouvir um pouco mais e pensar para dar uma opinião, porque sempre – historicamente – pagou muito caro pelos seus enganos. No passado, foi para a fogueira porque era bruxa quando tentava inventar algum remédio para a cólica do filho e não aceitava que a dor seria “um castigo de Deus pelos pecados cometidos”.

É aquela que leva a irmãzinha para a escola enquanto a mãe trabalha e não perde a hora. Nem mãe nem filha. E dá um jeito de arrumar a cozinha porque a mãe está cansada porque, depois da jornada extenuante, fazer o almoço foi mais um desgaste... mas ninguém disse que a comida estava boa. E aprende a passar a roupa, mas só ganha visibilidade negativa quando a mesma não está tão bem passada assim.

Acorda de madrugada quando o nenê chora e corre para chegar pontualmente no local de trabalho mesmo sem café e ainda tem que fazer cara de bem disposta.

Inventa um jeito de pagar contas em dia. E, se não tem dinheiro, faz o pão em casa, o bolo, o brigadeiro para a criança comer de colher.

E se não tem dinheiro para se enfeitar, cria alguma alternativa, reorganiza o guarda-roupa, faz um novo par de brincos e se renova.

Mulher reza, agradece com mais franqueza. Tem fé na vida e uma enorme certeza de que é possível ser.

E exercita o entendimento e o perdão para aquelas que não descobriram a maravilha da identidade e se expõe ao masculino, que se gosta predador.

Ser mulher é ter magia do encanto, da manutenção da doçura na alma mesmo no desprezo. É saber, com sutileza e sabedora, se defender de situações complexas e ameaçadoras. Jamais um homem entrou na alma feminina!

Felicidades e muitas conquistas a todas as mulheres, pois não abandonamos a vida. Choramos, enxugamos as lágrimas grossas de sal pelo abandono, exploração, desrespeito, ousadia negativa e alguém nos pergunta: “tudo bem?”

E a resposta é imediata e com certeza: “tudo bem, graças a Deus”.

Vera Moratta
Enviado por Vera Moratta em 08/03/2013
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