Finalmente o anjo da guarda Paulo cumpriria a primeira missão.
Após anos de treinamento, ele foi escalado para proteger e inspirar uma pessoa.
O protegido era um rapaz de trinta anos, Eduardo, um jovem contador, filho único de pais já falecidos, estimado por todos que o conheciam, um sujeito considerado bacana.
O anjo Paulo sabia que precisava conservá-lo nas boas veredas sem jamais interferir a ponto de bloquear o livre arbítrio do rapaz.
 
Logo cedo, um empresário procurou Eduardo desejando que o jovem lhe ajudasse a sonegar o imposto de renda.
Paulo, percebendo a teia mental ambiciosa lançada pelo empresário desonesto, resolveu agir rápido.
Eduardo não sintonizava com essas artimanhas e jamais exercitara a profissão de modo ilegal.
O anjo não pretendia permitir que Eduardo se desviasse exatamente agora.
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Eduardo, não ouça tal proposta passivamente! Até hoje a honestidade foi uma grande companheira na prática honrada de sua profissão. Continue seguindo esse caminho, meu amigo!
Eduardo, obedecendo à própria índole e captando o incentivo abençoado do anjo Paulo, falou:
_ Não posso ajudar o senhor! A minha contabilidade é completamente honesta.
O empresário, percebendo que não teria êxito, aborrecido encerrou a visita e saiu imediatamente.
Eduardo sentiu um enorme alívio se livrando do pilantra.
O anjo sorriu muito satisfeito.
 
Almoçando num grande restaurante, Eduardo nem sequer prestou atenção num menino maltrapilho que tentou em vão adentrar o restaurante, porém logo foi expulso por um dos garçons.
Na saída, Paulo se aproximou de Eduardo e sugeriu o seguinte:
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Eduardo, olhe à esquerda! Aquele menino sentado na pracinha, maltrapilho, sujo, provavelmente fedorento, olhando para cá, está com fome. Que tal lhe pagar um almoço?,>,>
Eduardo, movido por um impulso "estranho", observou o garoto, notou, no seu olhar direcionado ao restaurante, uma expressão desanimada e tristonha que o comoveu.
Não era difícil deduzir que ele estava faminto.
Eduardo decidiu encomendar uma quentinha, entrou no restaurante, fez o pedido e, quando saiu, foi até o garoto, disse uma ou duas frases, entregou a quentinha, se despediu e saiu assobiando.
O garoto, agradecido e bem surpreso, imediatamente começou a comer apressado.
Paulo seguiu Eduardo contente e emocionado.
O início da sua missão angelical não poderia estar melhor.
 
Aninha propôs um encontro na manhã seguinte, informando o horário em que o marido deixava a provocante esposa na academia.
O anjo apreensivo percebeu o entusiasmo de Eduardo.
_ ,>,>Eduardo, você tem uma namorada dedicada e possui algumas pretendentes formosas caso pretenda encerrar o namoro atual. Certamente você não necessita de um envolvimento aventureiro com uma mulher casada!
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Dessa vez Eduardo não foi nada receptivo aos conselhos de Paulo.
_ Está combinado! Dez horas eu apareço na academia, gata! Um beijão!
 
Eduardo adormeceu ansioso pelo encontro no dia seguinte.
Paulo aproveitou o descanso do seu tutelado para dar uma volta.
No seu primeiro dia, três situações testaram o quanto Eduardo amava ao próximo e respeitava Deus.
Desses três testes, um grande fracasso!
Apesar de dois sucessos, Paulo não se conformava com o futuro encontro adúltero que tanto parecia empolgar Eduardo.
 
De manhã cedo Paulo solicitou uma substituição, alegando que precisava conversar com o líder José, o anjo responsável pelo setor no qual ele recebeu o treinamento.
José viu Paulo cabisbaixo adentrar sua sala.
_ Querido Paulo, como pode um anjo da guarda, após um único dia de trabalho, pedir folga e mergulhar em tamanho abatimento?
_ Estimado líder José, eu fracassei e não estou conseguindo suportar isso. Tenho dúvidas se quero continuar trabalhando como um anjo da guarda! Peço perdão, porém preciso ser sincero!
_ Paulo, eu admiro sua sinceridade, mas devo ressaltar que você está agindo demais precipitado!
_ É a minha decisão, não pretendo recuar.
_ Paulo, antes de você, havia um anjo da guarda auxiliando Eduardo. Ele precisou se afastar porque necessitou efetuar outra missão. Você o substituiu suprindo a impossibilidade dele continuar inspirando o nosso simpático contador.
_ Pense bem! Será que ele jamais alimentou frustrações?
_ Todos as sugestões que deu a Eduardo foram seguidas?
_ Você esquece, meu caro, que Eduardo é livre para escolher seguir nossas inspirações ou não.
_ Não podemos impor a nossa vontade nem sucumbir quando o nosso tutelado prefere avançar equivocado.
_ É fundamental saber que quem possui o mérito ou o fracasso é exclusivamente o indivíduo o qual protegemos.
_ Nós somos apenas esforçados missionários tentando realizar a tarefa com o máximo de empenho e dedicação.
O anjo Paulo escutava com atenção as sábias ponderações do experiente líder.
_ Venha comigo – convidou gentilmente José.
 
Na frente da academia em que Eduardo prometeu comparecer, uma moça parecia aguardar com ansiedade a presença de alguém.
_ Veja bem, Paulo! Eis a bela e sedutora Aninha.
_ São onze horas, Eduardo não veio.
_ Ele pegou o ônibus, estava perto de descer, porém um certo pensamento sugerido ontem ganhou intensidade na mente dele.
((Se eu já tenho uma linda namorada, se posso, caso pretenda desfazer o romance atual, namorar algumas mulheres fascinantes que já sinalizaram interesse, por que investir num caso inconseqüente?))
_ Tal idéia aumentou, ficou forte, ele acabou não descendo no ponto da academia.
_ Está agora no escritório, pretende não atender o telefonema de Aninha e deseja hoje passar a tarde com a namorada.
Paulo escutou tudo muito surpreso e envergonhado.
_ Conforme te falei, você se precipitou - finalizou José.
 
Encerrando a agradável tarde Eduardo e sua namorada foram ao cinema.
Paulo, de volta ao trabalho, enquanto o casal curtia o filme, aproveitou o ensejo para, no lado de fora, refletir.
Ele percebeu que a jornada dos anjos protetores traz acertos e inevitáveis insucessos, pois, se os Eduardos podem optar pelo caminho o qual desejam trilhar, eles seguem vias bastante ditosas quando são receptivos aos conselhos inteligentes, no entanto também colhem os espinhos das escolhas egoístas e mesquinhas.
Ninguém é obrigado a adentrar a “porta estreita”.
 
Caso os protegidos abram os ouvidos, escutarão a voz sublime gritando no âmago, podendo sempre avançar fiéis às lições cristãs as quais edificam uma vida feliz e pacífica.
O Pai, magnânimo e bondoso, jamais abandona o ser humano nem costuma desanimar quando os homens permitem que a loucura prevaleça nos corações.
 
Essa era a preciosa conclusão que o anjo da guarda Paulo desenvolvia contemplando o céu estrelado no começo de uma noite maravilhosa na qual a lua cheia ressaltava um espetáculo deslumbrante demais.
 
Um abraço!,>,>,>
Ilmar
Enviado por Ilmar em 09/03/2013
Reeditado em 13/03/2013
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