ENQUANTO TEMOS ASAS...
 
Várias mariposas dançavam freneticamente frente ao clarão de uma lamparina existente no interior de um casebre pendurado no morro quando foram surpreendidas por pernilongos famintos que passavam por ali e eles lhes fizeram o seguinte questionamento:

- Por que vocês ficam dançando na frente dessa luz de lamparina se não há nenhuma música sendo tocada nesse lugar? Há algum motivo especial para isso? Ou vocês estão querendo demonstrar para esses humanos a existência de uma felicidade aparente? – ironizaram.

Algumas das mariposas sentindo-se ofendidas com o comentário inoportuno feito por aqueles pernilongos e também querendo aproveitar aquele momento para defender a prática do ofício da sua classe, responderam:

- Não se preocupem com isso, não, seus pernilongos esfomeados. A nossa dança é por uma causa justa e visa pura e simplesmente à comemoração da beleza desse clarão que nos alumia. Decerto, estaríamos muito tristes e não estaríamos dançando freneticamente, se estivéssemos “chupando o sangue” de alguns animais indefesos, inclusive dos humanos, como vocês o fazem - alfinetaram.

O pernilongo-chefe percebendo que o ambiente estava ficando “carregado” tratou de dar um zunido bem forte perto dos ouvidos dos seus asseclas e juntos decidiram alertar as mariposas:

- Não sei porque vocês estão com pena dos humanos. Se vocês prestarem bem atenção no comportamento deles, verão que de vez em quando alguns desses humanos procedem da mesma forma que nós, os pernilongos, e com um agravante:

- Eles se prevalecem do poder que detêm para “chupar todo o sangue” dos seres mais fracos de sua espécie, sob o falso pretexto de que são reais protetores dos seus “irmãos de sangue-bom” e, pensando no bem de todos os seres de nossa espécie, é-nos de bom alvitre que saiamos daqui, imediatamente; talvez os humanos dessa casa não gostem de mariposas, da mesma forma que não gostam de pernilongos e, sem nenhuma justificativa plausível, eles decidirão, de uma hora para outra, cortar as nossas asas.