Guerra

Ainda os vejo, com seus charutos fumegantes, as barbas para fazerem, a farda desbotada e rasgada pelo seu contínuo uso, o coturno afundado em sangue e lama. Nada comparado aos soldados de manto limpo, rostos lisos, botas engraxadas e no peito medalhas reluzentes que estão acostumados a ver em filmes e documentários. Seus corpos eram desnutridos por suas dietas de ração enlatada, com frutas secas, macarrão desidratado, biscoitos velhos e uma sopa oleosa de pescoço de peru. Felizes eram aqueles que conseguiam barganhar entre os soldados, alguma lata de feijão ou ter a rara oportunidade de poder trocar por alguma verdura de alguma plantação sobrevivente naqueles ermos. Tentando assim evitar doenças da época, por carência de determinadas vitaminas no organismo, ocasionando fraqueza no corpo e outras doenças agraváveis. Aumentando o leque de inimigos na guerra, se já não bastasse a sentinela que guarda a fronteira do lado oposto.

Porém, cada lado possui um ideal no peito. Algo em que acredita lutar por sua causa. Seja este ideal algo nobre ou não. Cada qual esta posicionado no "tabuleiro de xadrez" e espera erguer seu estandarte no limiar da batalha.

Todos lutam para ganhar a guerra. Ou seria para acabar com ela?

Mas acima de tudo, os homens de frente, de ambos os lados, sonham que chegue o próximo amanhecer. E com ele soe o fim da guerra. E que possam voltar para suas casas e abraçar suas mulheres, filhos, pessoas estimadas. Aqueles que lhe custam caro e carregam no campo, sejam através de pequenas fotos, objetos ou no peito.

Em noites em meio a um pandemônio onde o soldado não sabe se o barulho da selva ao seu lado é um animal, seu próprio companheiro ou o inimigo, apenas persiste um desejo em sua vigília: "Que eu possa mais uma vez na vida, poder cruzar meu olhar com o seu".