AH, BRASIL!!

Ah, Brasil!!

Eu era adolescente e vivíamos a turbulência da construção de Brasília. Televisão, a novidade da época, pouca gente tinha. Belo dia chega em minha casa uma maravilhosa Silverstone, marca de TV exclusiva da loja Sears, então Sears Roebuck ou qualquer coisa assim. A euforia que veio junto com essa máquina de fazer doido deixa qualquer Internet para trás. Era sagrado: à noitinha começavam a chegar os “televizinhos” e todos se quedavam embasbacados ante Neide Aparecida fazendo propaganda, lojas Pirani a gigante do Brás, o tigre da Esso ( só Esso dá ao seu carro o máximo!) com suas gotinhas de gasolina, Varig,Varig,Varig ( mas Cabral sentiu no peito uma saudade sem jeito, vou embora pra Portugal, quero ir pela Varig...). Dos programas quase não lembro, mas a propaganda... Porra, como pode se infiltrar tanto no cérebro da gente! Como podemos deixar que produtos ocupem espaço que devia ser de artes, conhecimentos, maior sensibilidade, amor, etc.? È desesperante constatarmos pouco a pouco, num processo lento através de anos, somos formatados em uma configuração de preferências conforme somos atingidos por propagandas que, muitas vezes, nada tem a ver com o produto, mas com o status quo que supostamente ele proporciona. Com Omo você ganha beijo do marido, joia da Vivara deixa você a cara da Cleópatra, as cervejas provocam comoções coletivas (cada bunda!) e coisas que tais. Já citava a cartilha do Partido Comunista (O Manifesto) que o capitalismo se alastra por todos os setores da sociedade, permeando, penetrando, contaminando tudo e todos. E, mais ou menos como o vício de fumar naqueles que o praticam, fica pregado em nossa sociedade, como se fosse uma solda. E, a meu ver, só solta com conscientização e cultura. Soltar não, pois não vejo nem no mais longínquo futuro uma sociedade sem a presença dessa ambiguidade chamada Capitalismo. Mas precisamos ter consciência para convivermos com um mundo cada vez mais ávido, desesperado para nos arrancar o que conseguimos com muito suor, fazendo de tudo para nos manter cativos de produtos e serviços que, muitas e muitas vezes, não temos a mínima necessidade. Explorando nossas vaidades, fraquezas e anseios, mexendo com nossa psique e nosso emocional, esse mundo oferecido pela mídia, onde as pessoas famosas usam produtos e usufruem de serviços que, com certeza, elas próprias mal conhecem. A finalidade é única: estender o sucesso dos famosos àquilo que está sendo anunciado e, como se fosse possível, esse sucesso será alcançado por nós se utilizarmos os objetos da propaganda. Hitler anteviu esse poder e seu ministro mais poderoso ( Göebels, acho) foi justamente o da propaganda.

Então, ficávamos olhando a televisão, extasiados e, mesmo com aquela chuvisqueira toda, não perdíamos uma só imagem, uma só palavra.

Doce inocência. Brasília foi inaugurada, Jânio tomou posse, vestiu trajes tropicais, namorou Che Guevara, renunciou deixando uma população de órfãos. Jango nunca foi um grande líder e se espatifou numa ditadura militar despreparada, mas pelo menos honesta ( acho eu). E nunca mais fomos os mesmos.

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 20/03/2013
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