Tempos e saudades

Esses dias nublados de outono chegam sempre carregados de lembranças, daquelas de marejar os olhos de quem as traz guardadas na memória. A garoa fina que corteja as tardes me faz olhar pela janela enxergando novamente um tempo bom que jaz plácido em meio as turbulências geradas pelo crescimento e amadurecimento.

Hoje escravizado pelo trabalho nem noto tanto a beleza do outono, e em meio a correria nem vejo o tempo passar, simplesmente classifico os dias em feriados e não feriados, e esqueço do que um dia me fez sorrir, das fruteiras do velho pomar carregadas, do chão coberto pelas folhas que completam seu ciclo carinhosamente sepultadas sobre as calçadas, dos pássaros se escondendo nos ninhos, coisas que com o tempo e a “evolução” (algo que insisto em chamar de involução) fui deixando de perceber e inconscientemente nem me dei conta da falta que fazia.

Resolvi dias desses deixar o carro guardado em casa e fazer o percurso até o escritório a pé lembrando dos tempos de estudante, e imediatamente as lembranças daquele tempo onde descer até o colégio todos os dias era a melhor rotina que se podia ter, a simplicidade de um “bom dia” a senhora que varria a rua, mas com um significado enorme a alguém que geralmente passa o dia a cuidar de algo que não é seu, as acácias com as suas últimas flores, os pássaros bebendo água no chafariz da praça e os idosos contando piadas sentados sobre o coreto da praça, memórias essas que com o tempo fui deixando de ter me preocupando com prazos, com papéis, com vida profissional, enfim tanta coisa que deixei de gostar ao longo do tempo.

Talvez crescer realmente contenha um conceito deturpado onde é embutido que se deve trabalhar, trabalhar e trabalhar para conquistar seu espaço, vencer na vida como dizem, mas chega um dia em que o verdadeiro significado de vencer esteja associado às boas lembranças de uma vida plena e feliz carregada de boas lembranças. Não perdemos tempo o desperdiçamos a bem da verdade.