23 anos- parte 1

A uma semana de completar 23 anos eu venho fazendo uma análise do que está sendo viver.

divido a minha vida em 5 fases.

1ª até os 3 anos- Pouco me lembro dessa fase. Ainda morava com minha mãe biológica, ou tentava morar pois pouco sei sobre ela ou sobre meu passado.

2ª dos 3 até os 8- fui adotada. Lembro-me vagamente do momento em que foram me buscar lá. Tenho alguns flashs, lembro por exemplo do meu batizado, do meu primeiro natal em família. Em menos de um ano eu me mudei para a Argentina e lá foi tudo tão bom. Apesar de saber que para meus pais morar lá significou a perda de uma neta, eu guardo lembranças boas do nosso apartamento de um quarto e das farras lá feitas e dos amigos que ganhamos, alguns permanecem conosco até hoje. Fui uma criança feliz nessa época, já era conhecida pelo meu sorriso e não tinha muita vaidade. Possuía um péssimo hábito de mentir, já criava histórias e já gostava de escrever e entrevistar amigos e familiares.

3ª dos 8 aos 11- defino como o meu primeiro momento de real dificuldade. A volta para o Brasil resultou em dificuldade de adaptação a nova rotina. Não falava muito bem o português e era muito desorganizada. Moravámos numa casa sempre alegre. Começaram a nascer meus sobrinhos, 3 deles no mesmo ano. Uma farra só. Me divertia no papel de tia, apesar de nunca ter gostado muito de criança. Na escola era bagunceira, mas estudava. Quem fazia a supervisão eram dois dos meus quatro irmãos. Sofri um pouco, pois a falta de paciência é uma caracteristica bem familiar. Tinha muitos amigos, apesar de ser extremamante vigiada. A parte mais complicada foi conviver com uma prima. Ela era metida, apesar de estar de favores. Comecei a perceber que eu não teria um bom relacionamento com mulheres. Ela era cínica, mentirosa e me manipulava. Com medo de que ela contasse a meus pais algumas coisas que eu achava que eram erradas, acabava cedendo alguns caprichos e mentindo muito. Sofria muita pressão por conta disso. Ela é uma pessoa que marcou muito minha vida, principalmente negativamente. Em outubro de 1995 começo a quarta fase da minha vida.

4ª fui morar em Moscou. Num primeiro momento senti muita dificuldade. Chorava e queria muito voltar. A saudade da família era imensa. Comecei a viver uma pré-adolescência confusa. Era birrenta, mentirosa e já apresentava sinais de profunda depressão. As brigas com meus pais eram constantes. Sentia pressão em ser um pouco dos meus irmãos naquele momento tão difícil. Passava o tempo fumando e bebendo com amigos, assim como escrevendo. Sonhava com a volta ao Brasil todos os dias. Em algum momento me apeguei a Deus e me tornei membro ativa da igreja, chegando a cogitar a idéia de ser freira. Idéia logo abandonada pelos meus vicíos: música, revistas de celebridade, seriados americanos. Não era muito vaidosa, estava 15 kilos acima do meu peso, tinha um cabelo enorme, assim como dentes tortos e usava um óculos digamos fora do padrão. Me sentia fora de moda e me escondia atrás de meu diário. Já apresentava dificuldade de relacionamento com homens, brigava e batia neles. Vim me apaixonar pela primeira vez aos doze anos, porém o vicío com o cigarro fez com que eu me afastasse dele. Aos 15 dei meu primeiro beijo e pouco dias depois voltei ao Brasil. Guardo boas lembranças dessa fase. Grandes amigos, momentos de meditação , momentos em que eu fui feliz de maneira simples. Já possuía um desejo intenso de estudar e ser alguém.

Kukla

Publicado no Recanto das Letras em 21/03/2007

Código do texto: T46269