SÓ DEPOIS DO CARNAVAL

Tem uma máxima aqui no Brasil que diz: o ano só começa depois do Carnaval. Pois bem, em se tratando de escrever para o caderno Expressão – do jornal GAZETA DO OESTE – eu levei ao pé da letra o ditado. É que estou sem escrever nada desde o último dia do ano passado. O problema é que não me disseram quanto tempo depois do Carnaval começa o ano...

Desta forma – e sem saber o tempo correto de começar tudo de novo – eu aproveitei o máximo que pude. Inclusive, até tirei férias de verdade, o que me estimulou (talvez) essa preguiça de voltar a escrever.

Mas, a causa foi justa. Precisei de um tempo para poder me dedicar a uma pós-graduação e, também, para resolver – e pôr em dia – questões particulares – que já se arrastavam por, no mínimo, quatro anos sem os devidos cuidados. Na minha ausência, o espaço que normalmente eu costumo usar, aos domingos, foi brilhantemente preenchido pelo escritor Obery Rodrigues que, ao longo de quase três meses, nos brindou com suas belíssimas e poéticas crônicas, além de tornar do conhecimento de todos, um pouco da história da Mossoró dos seus tempos de juventude.

Confesso, no entanto, que a “vida sedentária sem escrever uma linha sequer” não me fez muito bem. Estou acometido, seriamente, da preguiça literária – tão comum àqueles que mergulham na inatividade da leitura e que, quando resolvem voltar ao batente, encontram enormes dificuldades para completar, pelo menos, uma linha qualquer de um texto.

E aqui eu abro um parêntese e parafraseio o escritor Clauder Arcanjo quando ele, em algumas de suas crônicas, diz que busca encontrar um bom tema, o fio da meada de uma boa prosa, vai e volta, vira e mexe, lê vários autores, deita-se e procura no balanço da rede a inspiração, e ela custa a chegar.

Contudo, como todo bom brasileiro, eu não desisto nunca. Desta forma, o melhor a fazer é lembrar-me de algo que seja recorrente aos nossos dias e, através dele, começar a escrever a crônica da semana.

Pois bem, sendo assim, eu quero falar sobre um acontecimento que, de certa forma, deixou o mundo perplexo: a renúncia de um Papa.

Mas, não quero falar do fato em si, pois esse já ocorreu anteriormente e, portanto, não pode ser considerado, neste sentido, inédito para a história da Igreja e da humanidade, de uma forma geral.

Quero falar, na verdade, sobre o gesto que o ato provocou em quem, de fato, refletiu sobre ele, mesmo que de maneira pouco aprofundada.

Difícil imaginar, num mundo onde o ter e o poder imperam sobre a grande maioria dos seres, que um gesto de humildade, de desprendimento pessoal e, principalmente, de coragem, pudesse ter tanto valor diante dos homens.

Abdicar do Ministério Petrino e, consequentemente, deixar de ser o líder espiritual de mais de um bilhão de fiéis, para recolher-se à clausura e, seguramente, ao esquecimento, é uma demonstração de amor e carinho à Igreja e que deve servir de exemplo para todos os homens que, cegos pelo poder que os cargos lhes dão, vendem até a alma ao diabo para continuarem prisioneiros de suas ambições pessoais.

Saber-se fragilizado, fisicamente, pela idade e, por que não dizer, consciente de que os desafios a enfrentar superam a sua força de vontade de servir ao Ministério de Pedro, o Papa que renuncia nos ensina que o desapego ao poder é a melhor forma de servir à Igreja e ao seu povo.

Por fim, este gesto de humildade e altruísmo nos ensina que tudo é passageiro e que verdadeiramente certo na vida – sem querer fazer trocadilho – é a morte. É só olharmos os exemplos...

Obs. Imagem da Web

 
Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 24/03/2013
Reeditado em 14/05/2019
Código do texto: T4205121
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