Por que o escolheu?

Uma coisa que aprendemos é que não amamos ninguém pelas qualidades que a outra tem. Assim seria muito fácil, os simpáticos, amantes de boa música e não fumantes já estariam casados e com uma vida de se dar inveja. Não dá pra querermos amar alguém por essas coisas. O verdadeiro amor acontece por empatia, magia... Ou até um ‘não sei o que’ de algo que não sabemos explicar, mas que sentimos como ninguém.

Amamos pelo toque, pelo cheiro, pelos olhos, pela voz, pela pele, pelo jeito do outro fazer amor. Amamos pela fragilidade que se revela quando menos se espera, pelos ruídos de quimera, pela geografia do seu corpo. E sem falar do jeito de sorrir que nos deixa levitar. A implicância seguida do pedido de desculpas tem até nome, e sabemos qual é.

Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Só a boca que chega perto te deixa com febre. Esqueces até das discursões e desavenças, e das opiniões mais diversas e contrárias que vocês carregam. Tudo se perde no silêncio do respirar. Ele dança como ninguém, adora crianças, animais e ainda te escreve as músicas que canta e te encanta. Por que você ama este cara?

Você é inteligente. Escreve textos. Lê livros. Gosta e assisti os filmes do Almodóvar, do Woody Allen, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem o seu valor. Na verdade é a sua vida escrita na telinha. Seu corpo tem todas as curvas brasileiras. Tem vida, emprego, saldo positivo no banco. Gosta de música, de viajar, de amigos... Seu humor é incontestável. É um dos melhores que já se viu. Você tem o melhor currículo do mercado, mas mesmo assim esse ‘diabo’ de um metro e oitenta bons centímetros não te tem como amor.

O ‘amor’, esse infeliz que nos engana... Salvo o engano que o amor não fosse um sentimento, mas uma síntese do nosso querer, da nossa vontade. Onde bastava só o ‘EU QUERER’, que ele ia dizer um sim também. Onde em um somatório matemático simples em que EU PERFEITO + VOCÊ DELÍCIA EM CARNE E OSSO = DOIS AMANTES APAIXONADOS. Pena não funcionar assim.

Esquecemos que o outro pode até ter prioridades, situações e pessoas além desse mero sonhador. Amar não requer conhecimento prévio. Ama-se justamente pelo que o ‘amor’ tem de indefinível. Simpáticos existem aos milhões, amantes tem às pencas, bons amigos, tá dando até em árvore! Mas ninguém consegue ser igual a sua “paixão mal resolvida, dessas que você tem ciúme e se encharca de perfume”!

Então se você sabe de tudo isso, porque o escolheu?