Crônica XXI - Trocando as Bolas entre Laguna e Termas da Guarda

Ana Esther

Tudo é uma questão de planejamento... e bom planejamento foi o que faltou para a Mochileira Tupiniquim naquela viagem para Santa Catarina quando ela estava na flor de seus 15 ou 16 anos*. A confusão começou assim... A mãe da Mochileira fizera reservas num hotel nas Termas da Guarda para que pudessem descansar bastante antes do reinício do ano escolar. Contudo, sugeriu que antes de irem para lá passassem alguns dias em Laguna pois amigos haviam elogiado muito as belezas e o patrimônio histórico da cidade. A Mochileira vibrou, iria conhecer duas cidades ao invés de uma só!

Lá se tocaram as duas de ônibus e mochilas. Uma vez chegando em Laguna, instalaram-se no hotel indicado pelos amigos, um amoreco de hotel, prédio muito antigo. E logo se puseram a passear pela cidade em busca dos pontos históricos como o Museu da Casa da Anita Garibaldi, o marco do Tratado de Tordesilhas, bicas d’água da época do Império, o casario antigo deslumbrante e ainda por cima amaram testemunhar os maravilhosos golfinhos ajudando os pescadores na tradicional pesca com tarrafa, ah, o Farol de Santa Martha, tantas belezas inesquecíveis! Sem falar que no hotel a Mochileira verdadeiramente se empanturrou de camarões gigantescos como ela nunca vira antes... E os passeios pela pracinha à noite, então?! Um coreto digno de filme. E foi aí que...

A Mochileira e sua mãe viram os foliões já ensaiando antecipadamente suas folias de Carnaval. Sim, eram vésperas de Carnaval. Só que nem a Mochileira, e muito menos sua mãe, haviam se dado conta deste pequeno detalhe. Conversando com os moradores locais e turistas descobriram, para seu total desespero, que os festejos de Laguna eram dos mais famosos e divertidos do Brasil. Que drama, as duas adorariam entrar na dança... mas e as reservas no hotel na Guarda? E ali já havia hóspede esperando o quarto delas vagar... por mais que pensassem não foi possível permanecer em Laguna e muito jururus tomaram seu rumo para as Termas da Guarda.

Lindíssimo o lugarejo... em qualquer outra época do ano!!! Durante o Carnaval só havia blocos de idosos a desfilarem pelas poucas e desertas ruas da Guarda... Pobre Mochileira Tupiniquim, teve que amargar um ‘retiro espiritual’ forçado. Ainda bem que mãe e filha são ótimas batedoras de papo e nos dias em que lá permaneceram falaram pelos cotovelos com os outros hóspedes do hotel –o mais simples de todos. Hotel de madeira, com banheiro lá no final do corredor, uma aventura só, e uma comida gostosíssima. Havia bastante tempo para ler, caminhar pelos arredores, saber nos mínimos detalhes da vida e doenças dos hóspedes longevos...

Enquanto isso, algum bloco de rua em Laguna...

“... vou beijar-te agora, não me leve a mal, hoje é Carnaval...”

*Em algum ano no século XX.