O medo do desconhecido sempre povoou a imaginação do ser humano desde as antiguidade. Influenciado pelas histórias, as pessoas se tornavam escravas das crendices e superstições...

   Se uma coruja piava em cima do telhado era sinal que o dono da casa morreria em breve. O canto da ave era o  chamado para a grande viagem... Verdade ou não, assim que a coruja piava dizia-se que era o começo dos choros dos que ficavam por aquele que partia!

                      
   Se um galo cismasse de cantar fora de hora acreditava-se em duas coisas: se na família houvesse moça solteira podiam vigiar de perto, porque a donzela estava prestes a fugir de casa. Na pior das hipóteses, se ela não fugisse, poderia  morrer virgem. O meio de cortar o mal pela raiz era matar e cozinhar o galo antes das seis da tarde e servir a crista cozida, às jovens solteiras da casa.

   Se uma galinha cantasse como galo era mau agouro. Deveria ser sacrificada e jogada em forma de cruz em cima da casa, só assim o perigo era afastado.

      

  Uma crendice  sobre beja-flores me recorda os tempos de criança: se um desses pássaros tivesse as penas pretas e entrasse em casa era sinal de azar e se tivesse a cor verde era boa sorte.
   
   Na casa de meus avós havia muitas flores que se alastravam pelas paredes, atraindo grande número de borboletas e colibris.  Sentada à janela eu observava...Vez em quando um entrava em casa. Alvoroçada, avisava logo:

   -Vó, vem ver o beija-flor aqui na sala!
  -Minha Nossinhora, Mariinha, põe sentido! Ispia se é verde ô preto!
   
  Mesmo quando era pretinho, eu, sabendo das superstições dela e sem acreditar que um passarinho tão bonito fosse azarento,  sem querer alarmá-la dizia:

   -É verdim que nem a fôia do bambu, Vó!
   -Grazadeus!- Dizia ela. Indo em paz cuidar dos afazeres.

                     
   Segundo os antigos que a cauã é uma ave das mais agourentas que se tem notícias. Ao ouvir seu canto, deve-se rapidamente fechar três janelas ou tirar três brasas do fogão. Se a Pessoa tiver coragem ainda pode dizer:
   -Se for alma penada, vá para o céu e deixa os outros aqui na terra.
      A ave cauã pode até responder cantando:
      -No céu vou te esperar...

 

Nota sobre acauã:         
   Seu canto dá origem ao seu nome “acauã” e é repetido seguidamente durante alguns segundos. No folclore amazonense, diz-se que os gritos da acauã prenunciam a chegada de forasteiros. Já em Minas Gerais, prenunciam a morte de um conhecido.

A ave é citada na música “Acauã”, cantada por Luiz Gonzaga e composição de Zé Dantas:
  
  
                          "Acauã, acauã vive cantando.
                           Durante o tempo do verão 
                           No silêncio das tardes agourando
                           Chamando a seca pro sertão
                           Chamando a seca pro sertão
                           Acauã, Acauã,
                           Teu canto é penoso e faz medo
                           Te cala acauã,
                           Que é pra chuva voltar cedo
                           Que é pra chuva voltar cedo
                           Toda noite no sertão 
                           Canta o João Corta-Pau
                           A coruja, a mãe da lua
                           A peitica e o bacurau
                           Na alegria do inverno
                           Canta sapo, gia e rã
                           Mas na tristeza da seca
                           Só se ouve acauã
                           Só se ouve acauã
                           Acauã, Acauã
..."
 
       

                                                   

O texto faz parte do Exercício Criativo, cujo tema é "Pássaro de Mau Agouro" 
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Maria Mineira
Enviado por Maria Mineira em 01/04/2013
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