SABIÁ
 
 
“Minha terra tem palmeiras,
onde canta o sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
não gorjeiam como lá.”
 
Gonçalves Dias em sua Canção do Exílio.
(1847 – Universidade de Coimbra – Portugal)



 
Como de hábito, outro dia fui caminhar no Parque da Independência, que fica aqui no Ipiranga em São Paulo/SP, distante a poucas quadras de casa.

Depois de caminhar gosto de me sentar em algum banco debaixo das árvores que existem atrás do Museu do Ipiranga, para curtir a natureza, observar o movimento e relaxar a mente.

Naquele dia sentei-me num banco junto a uma senhora de idade que fazia tricô.

Como gosto de conversar com pessoas de idade e com crianças, pois com elas sempre aprendo alguma coisa, puxei conversa.

Perguntei se o que ela fazia era tricô ou crochê.

Ela me explicou que era crochê e que sempre fazia aquilo naquele local, quando vinha com a sua neta que praticava corrida para exercício físico.  Enquanto a neta corria ela crochetava.

Eu comentei que era uma pena que aquele tipo de arte dela estava em extinção.

Ela concordou e me falou que já tentara passar a sua prática para as suas filhas e netas mas tinha sido em vão.

Disse-me que as suas netas hoje em dia só querem saber de computador e nem querem mais saber daquilo.

E a nossa conversa se desenvolveu de forma muito agradável, ela me falou que nasceu na avenida Paulista, viveu muito tempo no bairro da Liberdade, já vivia há anos na região da avenida Cursino, região do Ipiranga, e que já completara 84 anos de vida.

Eu a parabenizei pela linda caminhada e por continuar tão ativa na vida.

A nossa conversa estava tão interessante quando, de repente, senti que algo caiu na minha perna.

Ao observar o que caíra, logo imaginei a ação de algum passarinho.

Peguei umas das muitas folhas caídas no chão e limpei a minha bermuda.

Olhei para cima e notei a presença de um passarinho pousado num galho da árvore, bem na direção da minha perna. E pela plumagem laranja do seu peito percebi que era um sabiá.

Dei andamento à nossa conversa, dizendo a ela:  - É só um sabiá!

Considerando inclusive o ditado que diz que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar.

Mas não passou nem um minuto e novamente uma nova carga fisiológica dele caiu exatamente no mesmo lugar da minha perna.

De imediato concluí: raio é raio e sabiá é sabiá!

Para a minha surpresa, a senhora levantou-se do banco, pegou a sua bengala e me falou: - Você vai me desculpar mas eu não levantei cedo, tomei banho, coloquei roupa de sair para me sujeitar a esse tipo de coisa!

E foi caminhando apoiada na sua bengala para um outro banco, mesmo que exposto ao sol e sem nenhuma árvore a lhe oferecer sombra.

Eu fiquei injuriado com a situação, peguei alguns gravetos do chão e passei a atirar para o alto na direção do sabiá, para que ao menos ele mudasse de lugar. Depois de algumas tentativas eu consegui que ele mudasse de posição da sua artilharia.

E ai então, certo que não seria mais o seu alvo, pude então refletir um pouco em paz e tirar as minhas conclusões:

Primeiramente: Vai ser carimbado assim lá na ponte que partiu!

Segunda e finalmente: Lembrei-me de Gonçalves Dias e imaginei uma adaptação no seu famoso e sensacional poema:

Minha terra tem Corinthians,
onde apronta o sabiá,
as aves, que ai aprontam,
não aprontam como cá...






O local do "crime"...





http://youtu.be/wqAQ9dihJqw

O grande encontro - Sabiá




 
Wilson Madrid
Enviado por Wilson Madrid em 05/04/2013
Reeditado em 15/09/2015
Código do texto: T4225301
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.