GUERRA DE PAÇOCA.

Hoje acordei cedinho como tenho adorado fazer de uns anos para cá, as lembranças foram surgindo em minha mente de homem maduro e de repente me vi novamente criança, correndo livre pelas ruas da Apinagés, moleque danado, magricela, deveria ter por volta de onze ou doze anos, sempre as voltas com alguma traquinagem e sempre seguido de perto por meu irmão mais novo, o Marcelo e dois amigos inseparáveis o Louro (Renato) e o Lelê (Alexandre) sempre juntos e sempre prontos a aprontar.

O dia estava lindo típico de verão (julho), pois aqui no Pará só temos período de chuvas e de muito sol, moleque de férias acorda um pouco mais tarde e lá por volta das 10:00 horas da manha, nos reunimos como de costume na porta de nossa casa, que era o point da galera.

Lembrando que nessa época, tinha um vizinho que trabalhava com distribuição de balas e bombons e o dito cujo tinha acabado de desocupar o imóvel e tinha deixado algumas coisas por lá, e como já disse antes moleque é moleque (ou pelo menos no meu tempo o era), fomos observar a casa e percebemos pela grade sanfonada que tinha algumas caixas no pátio, resolvemos então entrar, varando pela grade, mais quem disse que deu, o Louro era gordo demais, o Lelé, já nessa idade tinha um barrigão, o Marcelo só ia junto mais tinha um medooo, eu por minha vez tentei passar, mas também não deu, dai ficamos naquilo, as caixas de bombom olhando pra gente e a gente querendo elas. Mas a sorte estava do nosso lado e quem surge em nossa frente, nada mais nada menos que o Pombo, sabe quem era? Pois eu te digo, era irmão menor do Louro, um moleque branquela, seboso que só ele, deveria ter por volta de uns seis anos, mas valia por um de quinze, era danado demais.

Pois não é que puxamos a grade fazendo força e o moleque entrou no pátio da casa, e ia passando para o lado de fora, as caixas de bombom, só de sacanagem deixamos o molequinho trancado na casa, por alguns instantes, mas depois o soltamos afinal de contas era o nosso herói e merecia receber seu quinhão de recompensa.

Comemos bombom o dia todo e deixamos umas caixas para o final, dentro tinha uns pacotes de paçoquinha deliciosos, comemos o que podemos e quando não aguentávamos mais começamos a jogar paçoca uns nos outros, mano, pensa numa guerra gostosa, pois é foi ai que meu irmão começou a jogar a paçoquinha para o alto e percebemos que ela se espalhava com o vento, que fazia um redemoinho, pois em frente a nossa casa tinham dois prédios que por serem muito altos, tinham o dom de brincar com o vento.

Começamos a jogar cada vez mais sacos de paçoca para o alto, era uma belezura só, aquele pó marrom adocicado se espalhando pela rua e transformando o asfalto e as casas, numa cor só, o MARROM GRUDENTO, os carros que passavam ficavam com o pneu todo sujo, da doce paçoca, deve ter dado um trabalho para tirar aquilo da roda do carro que é melhor nem pensar. Para se ter uma ideia, era tanta paçoca, que dois dias depois ainda tinha paçoca pela rua, as velhotas se atacavam, as sandálias e os sapatos eram um grude só e foi assim que ao final de um doce dia fomos dormir, felizes e grudentos por conta da famosa guerra de paçoca, que até hoje ainda se espalha por meus pensamentos, trazida pela doce brisa dos bons tempos de criança.

Tony Monteiro
Enviado por Tony Monteiro em 09/04/2013
Código do texto: T4231303
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