Homens...

Bendito foi aquele Homem de Neandertal ao aplicar o primeiro puxão de cabelos à, já maravilhosa, Mulher de Neandertal. Ali, talvez ainda através de uma linguagem muito rudimentar, um homem dizia pela primeira vez a uma mulher: “Sou mais forte que você, sou grosso mesmo e, ainda possuo ferramentas que podem abrir a sua cabeça e lhe causar enormes hematomas. Caso você queira vencer por aqui terá de começar a desenvolver sua capacidade de raciocinar.” Pronto! Se o mundo masculino já existia com a simples presença física de nossos ancestrais brutamontes, ali, naquele instante, nascia o impenetrável e indecifrável Mundo Feminino.

O homem logo saiu de sua casa, ou sua toca, ou coisa que o valha, para atender – sem saber, obviamente – aos caprichos de sua matrona. Esgueirava-se selva adentro na intenção do melhor que poderia caçar para satisfazer àquela que lhe proporcionava prazeres indescritíveis. As mulheres, por sua vez, permaneciam em seus lugares, sempre tentando melhorar o ambiente onde eram obrigadas a viver. Nesse meio tempo, entre uma caçada e outra, o papo rolava solto:

- Você viu menina, que pernas lindas e cabeludas tem aquele brucutu que dorme com aquela loura com cara de pterodátilo?

- Nem me fale! Ontem depois da tartaruga, que aliás estava uma delícia, ele ficou me dando umas olhadas... Nossa! Foi me subindo um, um... Sei lá, uma coisa diferente. (acho que ainda não haviam descoberto o fogo).

- Pois é, vamos mudar de assunto porque a “dino” está nos olhando com a cara amarrada e rangendo os dentes.

Diálogos como este – claro, manifestados através de grunhidos e batidas no peito – suscitaram os primórdios de um mundo especial, um lugar comum apenas às mulheres. Estava estabelecido o Subconsciente Evoluído. Um mundo abstrato que quase pode ser tocado. Enquanto os homens resolviam tudo na base da bordoada e, de cinqüenta em cinqüenta anos criavam uma nova ferramenta de caça, as mulheres aperfeiçoavam a comunicação entreolhares. Uma sorria, a outra entendia. Uma piscadela poderia representar mil frases. Existe uma caricatura onde aparece um homem primitivo segurando uma clava e carregando uma mulher pelos cabelos que, apesar da violência, sorria matreiramente - já vi este desenho, mas não me lembro onde. Pois bem, coitado daquele homem – meu ancestral, ó céus!

Os tempos passaram, as mulheres aperfeiçoavam-se cada vez mais, e os homens, bem, os homens inventavam novas ferramentas para obter o que comer sem deixarem de violentar suas mulheres com truculências e ignorâncias. O mundo feminino intensificara-se em suas possibilidades. As mulheres passaram rapidamente a entender seus homens e suas necessidades básicas – aliás, qualquer homem vive muito feliz se uma mulher lhe satisfizer as necessidades básicas e apenas elas. E foi o que as mulheres fizeram. Os homens precisavam saciar seu desejo de poder observar o corpo nu da mulher. O que a mulher fez? Ora, escondeu seu corpo e passou a barganhar por qualquer olhadela que fosse. Os homens babavam e submetiam-se a qualquer sacrifício por um pouquinho de prazer. Mulheres... Tornaram-se cada vez mais exigentes e em troca continuaram entregando aos seus parceiros as mesmas coisas que entregavam há milhares de anos atrás. A mulher se vestiu e o fez com galhardia. Roupas suntuosas que realçavam curvas suntuosas. Aromas maquiavélicos que encantavam pensamentos toscos e, maquiavélicos. O homem com o passar do tempo envolveu-se mais em sua escravidão do que sua pequena capacidade de raciocinar poderia imaginar.

E mais um bocado de tempo se passou. Bocas e unhas pintadas, cabelos perfumados e arranjados, a mulher agora cobria seu corpo com sabedoria e elegância. Seios? Coxas? “Negatoff”!! Nem os calcanhares eram oferecidos aos olhares daqueles que “cresceram” acostumados ao saciar desenfreado. Espartilhos, anáguas e um sem número de panos bordados por cima do fascinante objeto de desejo, deixavam à mostra apenas alguns tornozelos mais atrevidos. Os homens não ficaram tão atrás assim, inventaram uma indumentária que os alinhava, agasalhava e servia à toda obra: o terno.

E assim a humanidade evolui. A mulher jogou fora toda aquela parafernália que à cobria – deixou de sobreaviso o espartilho, pois precisaria, vez ou outra, saciar alguns desejos primitivos. O homem ficou mais exigente. Ele agora não se contentava com qualquer agrado. O homem exigente precisa de mulheres que tenham o que oferecer: seios fartos, lábios carnudos, coxas grossas e roliças e, obviamente, um bumbum para ninguém botar defeitos. Exigentes, não? Esse comportamento foi afastando o homem da necessidade de saber o que se passava dentro da cabeça da mulher. Isso foi terrível. Foi não, é! Hoje, milhões de anos depois, o homem ainda vê a mulher como à via deste o princípio. Nossas parceiras, no sentido inverso dessa estrada, aprenderam, desenvolveram-se e criaram em si e, entre si, uma espécie de código inacessível ao entendimento do homem. Essa impenetrabilidade criou um universo único e incompreensível de tal maneira, que a maioria dos homens nem sabe de sua existência. Um universo recheado de inteligência, sensibilidade, compreensão, doação e delicadeza. São virtudes que o homem esqueceu no tempo. Esqueceu-as não, nunca se preocupou em possuir tais virtudes, ou mesmo entendê-las. Alguém já disse que se um homem for possuidor de tais qualidades, provavelmente já terá um namorado.

De dentro de sua prisão “sócio-econômico-psicológica” a mulher observou o mundo passar ao seu redor. Entendeu seu mundo, tirou suas conclusões e soube se colocar nele e diante dele. Galgou sua liberdade e igualdade, lançando às favas preconceitos e restrições impostas por seus “dominadores” sem que esses percebessem o que acontecia além de suas retinas. O mundo é hoje muito mais feminino do que em qualquer outra época. Junto com anáguas, corpetes, bordados, preconceitos e privações a mulher resolveu jogar tudo mesmo para o alto, inclusive a vaselina. Tomou o mundo de assalto sem pedir licença. Manda, desmanda e seu mundo é cada vez mais soberano e indecifrável. A classe, a inteligência e a elegância de sempre, estão à serviço da dominação do mundo como nunca estiveram antes. É Condolezza empurrando o ferro e o Bush feliz da vida com sua fama de mau. O mundo não se esconde mais por debaixo de enormes vestidos. Só não vê quem não quer, ou, quem se satisfaz apenas em enxergar lábios carnudos, seios fartos... Eu, neste calor infernal, dentro de meu terno infernal – o homem ainda não se livrou de suas parafernálias infernais - tento, enquanto pingo, descobrir como fomos deixar isso acontecer? “Maledito”!! O energúmeno de Neandertal.