REFLEXÕES DA ALMA

Luquinha do alto de seus dez anos muito bem vividos por sinal, causava muita confusão com sua travessuras.

Aprontava todas que sua idade permitia, arrancara todos os sorrisos e todas as lágrimas dos pais, avós, tios e tias, levara todas as broncas dos professores que poderia um moleque de sua idade.

Sempre foi fundo em todas as dúvidas que lhe surgiam, jamais correu de um desafio, era um menino maduro apesar das molecagens e de sua pouca mas extrema experiência de vida, mas eis que surgiu uma questão que cozinhava os miolos.

Resolveu então pedir auxilio ao pai, sempre tivera um exemplo a seguir, orgulhava-se do pai, pela retidão, seriedade, pela responsabilidade que cuidava das obrigações familiares, sociais e religiosas, jamais vira o pai levantar a voz para quem quer que fosse, jamais vira o pai reclamar de qualquer coisa, pensou consigo, só ele pode me ajudar.

Seu Alfredo viu o filho caminhar em sua direção, parou o que estava fazendo e pôs-se a comtemplar a caminhada do filho.

-Papai só o senhor pode me ajudar! Exclamou o menino.

-Depende filho, vamos lá diga do que se trata. Disse serenamente

- A pedadoga da escola me deu a maior bronca, disse para eu criar juizo, elm me pediu para pensar e responder a ela amanhã, o que fiz da minha vida até hoje, e o que vou ter para contar para os meus filhos quando eu for adulto.

-Ta filho, mas por que isso? O que você aprontou?

-A pai, nada não, isso é só um detalhe! Disse sorrindo.

Seu Alfredo ficou pensativo, mas enfim disse ao filho:

-Me conte tudo que se lembra de ter feito até agora. Perguntou meio curioso.

-Bom papai, que eu consigo me lembrar, com quatro anos fiz uma homenagem de dia das mães para a mamãe e a vovó la na escola, elas até choraram(risinhos), foi bunito, depois entrei para o time de futebol da escola, fiz até o gol na final que deu o titulo pra gente lembra? Aos cinco anos liguei para o resgate quando cheguei em casa e vi o vovô caido no chão, a moça da ambulância disse que eu salvei a vida dele, com seis anos fui pra praia com o senhor, e aprendi a nadar com o tio João, com sete anos quebrei o braço quando cai de cima do pé de goiaba do quintal do seu Quincas, no mesmo ano aprendi a ler eescrever, ganhei a medalha dos bombeiros por ter salvo o gatinho que da árvore, aos sete dei meu primeiro beijo, aos oito e nove passei de ano no meio do ano mas fiz muita bagunça e as professoras disseram que eu sou um capetinha. Esse ano, com dez anos, namorei a Quelzinha a Diana, a Simoni e a Jéssica, fiquei com a Ruth, mas a Sabrina, essa eu quero casar com ela pai, pedi ele em casamento, foi ai que a chata da pedagoga veio me atazanar.

Alfredo ouviu atentamente a narração do filho, pensou em toda sua vida até ali. Lembrou de que em dez anos de casamento jamais dissera a palavra não em casa, pensou em todas as vezes que abriu mão de seus sonhos, seus projetos, lembrou no tanto que teve de engavetar uma idéia em seu trabalho para não ficar desempregado por causa da familia projetos guardados no fundo de uma gaveta, empoeirados, quantas vezes fora humilhado pela esposa na frente dos amigos, quantos chopes deixou de tomar com aturma da repartição, quantos futebol deixou de ir saudades do pai,m diálogos que nunca teve com ele, e nunca mais tera, sentiu na boca o gosto do x-tudo que deixou de comer desde o dia que descobriu que a namorada estava grávida, muita gordura, precisava ser saudavel, afinal, viria o primeiro filho, lembrou de Lala, seu primeiro e único amor, que o deixou quando descobriu que a traira, e pior, que a moça com quem a traira estava grávida.Pensou na faculdade que não terminou, no carro zero que foi impedido de comprar pela esposa, pensava em como o filho com dez anos, era mais corajoso do que ele foi em toda sua vida, sentiu um puxão na perna da calça, olhou na direção de onde veio o puxão.

-Então papai, o que tem a me dizer? Tenho que levar a resposta amanhã para a pedagoga.

Alfredo levantou-se, pegou levemente na ponta do queixo de Luquinha, olhou-o ternamente e o respondeu:

-A partir de agora, vou viver meu filho, vou viver!