A festa da banana

Minha mãe era mesmo uma pessoa muito especial. Para tudo que aparecesse em nossas vidas, ela tinha uma solução. Meu pai e ela lutaram muito para nos criar, pois, não era fácil naquele tempo em que o pagamento do Estado chegava a atrasar nove meses e a situação era agravada pelo pós-guerra. Tudo era mais difícil, a desigualdade social aumentada e às vezes, a pessoa tinha dinheiro e não tinha o que comprar.
Nós morávamos em uma das três casas de um mesmo lote, pequena, alugada; por aquelas bandas quase não se via casas assim. Era um bairro de classe média, casas boas e, aluguel por ali, era coisa rara. A família morou durante vinte e um anos naquela pequena casa, e o nosso relacionamento com a vizinhança era excelente; nós tínhamos muitas amigas ricas e que não se importavam com a nossa simplicidade.A nossa fase no colégio foi privilegiada, pois naquele tempo, os colégios do Estado eram os melhores e nós nos saímos muito bem. Era uma brincadeira constante e muito barulho, uma enorme horta na frente das casas e a gente corria à vontade e com segurança. No fundo do lote, que era muito grande, havia um galinheiro comprido e, junto com ele, muitas bananeiras.
Quando tinha o aniversário de alguma amiguinha, passávamos aperto por causa de roupas e presentes, mas íamos levando a vida sem maiores traumas.
Um dia no meu aniversário, eu comecei a atormentar para fazer uma festinha e veio a explicação de sempre: não tem dinheiro, fica feio não fazer uma festa de acordo e não podemos fazer nada. Aí começou a lamentação, choro, ranger de dentes, etc, até a mamãe perder a calma e exclamar: Está bem! Ô menina desesperada! E começamos os preparativos, chegou minha tia Olga e começaram a fazer uns docinhos. Refrigerante, nem pensar! O negócio era suco não sei de que. Fui lá para a rua e convidei a meninada. Quando, à noitinha, elas chegaram, estava uma beleza a mesa toda arrumada de docinhos coloridos e a tia Olga havia feito um pequeno bolo. Eu vibrava de felicidade e fomos servindo aqueles docinhos e a criançada achou tudo maravilhoso.
Quando terminou a festa, e ficamos, só os de casa, alguém perguntou como foi que a mamãe conseguiu tantos doces e tão variados. E foi aí que saiu uma estrondosa gargalhada do meu pai, que disse. A sua mãe é tão criativa, que apanhou muita banana, amassou com muito açúcar, arranjou anilinas de todas as cores não sei onde e providenciou a festa.
Não sei se alguém notou e se notou, teve a delicadeza de não comentar, mas nós achamos aquilo maravilhoso! Ela fez para cada cor, um formato, colocou forminhas, que deram um aspecto bem elegante e o ingrediente principal ela tirou de dentro do peito. Colocou uma grande dose de amor, com certeza, entregou tudo para Deus e então a magia entrou naquela sala e pairou no ar, fazendo a minha felicidade de uma forma que eu jamais me esquecerei daquele dia. Deus lhe abençoe, minha mãe!

Celeste

Nos melhores tempos de nossas vidas.
Pássaro Feliz
Enviado por Pássaro Feliz em 24/03/2007
Reeditado em 01/05/2008
Código do texto: T424709
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