Pontos no Arco

à Kandinky.

“Se quer matar de sede os desfavores,

Os cristais bebe com a peçonha menos,

Por que não morras com os mortais venenos,

Se acaso gosto de vitais licores.”

-Manuel Botelho de Oliveira

O barulho é um choque de cotovelos. É impossível sublimar o egos machistas que se inflamam nos olhares (peito duro, coxas). A enxaqueca exclama: “Não hás de escapar-me”...

Estou entre asnos e ladrões e tiro retratos. Mme. Recamiér. Carteiro Roulin. Suspiro... Penso na tapeçaria que tento pôr a nu agora. Um pouco de psicologia: veículo Adler. Maria Antonieta é levada em meu sonho ao suplício. Minha cama de borboleta dança na ilha dos mortos. Claustro. Queda.

A natureza está morta. O som aumenta. O valete de ouros sorri para mim, dou-lhe as costas. Não há quem consiga um bom pensamento pensando na água nos canos e ouvindo uma coisas que dizem ser “incomparável”, tanto que só faz pó de meus nervos, enquanto meus ouvidos não deixam de ser físicos. Vejo os sons.

Coloco uma pequena mascara através dos gargalo de uma velha garrafa de vinho. Coleciono rolhas como lembranças. Danaídes dançam no teto através da escuridão. Downs wedding mirror – espelho em vermelho. Um tiro; composição de vermelho em vermelho. A ponte, o asfalto na noite. Linhas obtusas da civilisation machiniste. Vejo o rei beijando uma mendiga que traja uma camisa com Marilyn xilografada em azul, d-es-perto. O barulho me desperta.

Nada compro a não ser um épico moderno, se isto é que é possível. As pontas do arco são barulhos, espadas; cordas que elevam os anjos rebeldes. Um palhaço assina minha alma com uma gargalhada macabra e me diz adeus.

Tudo o que eu preciso é amor... muito amor!

Minhas falas anteriores apenas bateram em meus pensamentos, eu sei, os quais podem interpretar além, só digo que as coisas nasceram estranhamente.

...homens não devem passear muito tarde...

If you’re stray, I’ll be your best way!

When I close my eyes I can see your smile shining bright on me!

I feel your touch in the dark…

Mas talvez sejamos feitos do mesmo estofo que os sonhos e nossa vida é como um longo sono, um eterno dormir.

(Meu querido, fique quieto!)

E agora... os livros crescem por si!

If you’re seak,

Let me your cure,

If you’re lost,

I’ll be your paradise!

A vida é curta. É curta demais. Muito curta demais. Vamos procurar outros pensamentos? Querido, que vos deixem comigo. Que me deixem...

Ai, fui eu alguma vez muito cruel como você?

Onde estão aqueles dias felizes que eu fiz esperar?

Estou vencido e admiro um rei vitorioso. Você vê diante de si, eu mesmo, uma pessoa desvairada, que te pede duas (ou três) palavras.

Ele me observou em sombrio silêncio e o céu fez por mim pender e balançar, neste tempo, sem dúvida, agia sobre meu coração. A reflexão está proibida para os poetas? Um sentimento não é um mundo de pensamentos? Porque em vão tentamos escrevê-los?

Talvez por que tento ser um literato, um sujeito/assunto de um literato bem-nascido. Isto sempre acaba em homens bêbados e mulheres grávidas.

Já é tarde, ouço apenas o barulho da água nos canos, o sangue nas veias e uma aflição que se dissipa. É preciso falar dela, como tenho feito, para que se torne insignificante. Minha insígnia de vampiro foi corrompida. Nunca uma palavra dita com raiva deixou-me bem. Nunca tão poucos minutos estragaram-me diante de mim.

Odeio parecer fraco, sê-lo é ainda pior.

Queria poder dar-me uns tapas, acordar. Sentir-me um pouco mais eu e menos esgoto. Tenho risos ácidos grafados nas costas, na boca o hálito que o ar esconso contaminou.

Se eu era demônio, hoje conheci o último dos círculos infernais. Nunca uma lágrima faria tão bem. Jamais um abraço amigo fez tanta falta. Eu olho a mesa de madeira encostada na parede, há açúcar nela. Minha angústia freme e ouço vozes que destroem as últimas migalhas que ainda diziam: “és tu, és alguém”.

Roncos noturnos não trazem a solução, a casa dorme e novamente tenho medo, meus estomago pulsa. O relógio digital pisca para mim. Minha fronte é como velho vinho rascante, arranca os últimos fôlegos de minha garganta.

E sinto nojo. Não pelo que pensei, mas pelo que vi no reflexo do espelho. Tenho nojo, mas o vômito não vem e a solução não chega.

Na camiseta branca as manchas de suor, gotas de um perfume especial ainda me estão nas narinas, por isso queria chorar. Solidárias lágrimas solitárias de desespero. Meu pé dói, eu xingo e chamo.

Compus castelos no ar, hoje deslumbro-me sem casa. Estou mal, preciso tanto de um olhar quente, não de lâmina atrozes, frias, capitalistas, espiritualistas...

Eu apenas preciso de um bom banho e de um belo sonho de boa noite. E esperar o bem que amanhã não virá.

James Bond nunca passou por isso...

Abro um livro qualquer:

Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta dos olhos; se tem espelho e olhos e é noite, não se pode ver porque falta a luz.

Logo há mister luz, há mister espelho e há mister olhos.

Eu odeio cinema, filmes me deixam assim, melancólico. Tantas coisas há... tantas aquelas que eu queria... e no entanto você está longe. E nunca me disse que me amava sem ser nos momentos em que poderias facilmente (fatalmente?) mentir. Eu queria que tocasse no fundo dos lagos mortos de minha alma. Queria que não parecesse indiferente a mim. Queria fluir como a impossibilidade de um rio no inverno diante de esquizofrênicas borboletas que voam diante de mim como cristais de medo. Do gelo. Do meu coração.

Queria não sucumbir a minha própria mão... ainda mais debaixo deste arco negro, de triângulos multicolores, com pontos brancos que me atravessam e me descobrem!

Ev
Enviado por Ev em 25/03/2007
Código do texto: T424949