Jeca tatu
Em um sertão longínquo, morava um rapaz cujo apelido era Jeca tatu. Ingênuo e de ares assustado, o moço era presa fácil de brincadeira da molecada, e de alguns adultos do lugar. “Ô Jeca me faz um favor. Enxugue para mim esse gelo? “Jeca vê ali na esquina se eu estou lá”                              Certa vez alguém inventou para o Jeca que se ele guardasse dentro de uma fronha todo o Cocô que fizesse durante quatro dias, e no quinto dia colocasse a fronha atrás da porta da cozinha, no sexto a merda viraria ouro. A inocente criatura fez direitinho como lhe explicaram, e no final recebeu muitas vassouradas da avó, e ainda teve que retirar a imundice cheia de bicho e deixar clarinha a fronha. De outra feita, mandaram que ele passasse uma noite e um dia sentado á beira da linha, porque um artista muito rico estava procurando um jovem da região para trabalhar na televisão, e o primeiro que ele visse quando entrasse na cidade seria o escolhido. O moço passou todo esse tempo sentado vigiando a passagem do trem, e ficou nervoso com a avó que veio arrastá-lo para casa, dizendo que por aquelas bandas, não passava uma locomotiva há mais de quinze anos. O Jeca sabia ler e escrever muito pouco. Não que tivesse problema para aprender, mas é que ele nunca gostou de estudar. Ficou seis anos na segunda série do fundamental. Ele ia á escola obrigado pela avó que o criara. Não prestava atenção em nada. Gostava é de acompanhar o voo dos mosquitos. Das rasantes que davam nas janelas, de mastigar lápis, e comer as borrachas. Na hora do recreio era o primeiro a chegar à cantina. Merendava duas vezes todos os dias. Desde criança era alvo de pegadinhas. Diziam que os banheiros estavam interditados quando o viam se aproximar desengonçado. Por várias vezes o garoto urinou nas roupas dentro da sala de aula, levou puxão de orelha da professora e foi chamado de porco. A avó percebendo que o neto desperdiçava material e tempo, o retirou da escola e o ensinou a lida da roça. Ela fez a escolha certa, pois tirando as longas horas em que ele passava vigiando as nuvens no céu (Disseram para ele que de vez enquanto São Pedro acenava cá para baixo), podia até dizer que ele era bom de serviço, e que carpia como ninguém!