Perspectiva

Quantas e quantas vezes já me senti assim, como se arrancado de mim o último suspiro de esperança. Sofri e chorei lamentando o fim dos tempos, mas sempre chegou o amanhã em que meu ar era novo, vivo, aliviante. Então, sorri momentos felizes, coloridos, reconstruindo sonhos. Tudo derrotado depois, a alegria assassinada em uma outra manhã nublada.

Nesta vida de fênix, fui ressurgindo de minhas próprias cinzas, mas morri de novo, de novo, de novo... Quantas vezes mais preciso cair até que não consiga reerguer minha alma?

Histórias de inícios floridos e finais tristes. É por isso que hoje doem minhas entranhas, latejam moribundas as minhas veias.

Na minha mais recente morte, perdi mais que um romance de Verão. Vi partir meu amor, meu marido, o pai dos meus filhos. Perdi o brilho dos meus olhos, a música da minha boca, o bater do meu coração. Só não sei se amanhã seria mais uma vez fênix, ou apenas um pássaro qualquer em decomposição.

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Essas são palavras de uma adolescente de coração partido, cheia de convicção sobre o passado e fé nenhuma no amanhã. Afinal, como conceber o futuro quando se crê profundamente que o verdadeiro amor se foi?

São declarações intensificadas por um exagero inconsciente. É que nessa vida, cada obstáculo e dor parece ser gigante (e definitivo), até que a gente precise encarar um desafio que é ainda maior, e depois maior, e maior ainda. Tristeza, felicidade, sentimento, são todas abstrações extremamente concretas, mas seu tamanho é uma questão de perspectiva.

Na hora em que vem a facada, quando nos atinge a perda, é necessário força de leão para enxergar os fatos e o possível desenrolar de consequências com clareza. É tão difícil quanto tentar ler um livro com o rosto grudado nas páginas. Para se ganhar perspectiva, compreender o contexto, a distância certa é um requerimento.

Se aquela adolescente tivesse perspectiva, saberia desde então que a dor daquele momento era válido. Necessário para exorcizar o que não mais existia, o que precisava virar passado. No entanto, haveria o instinto de que aquelas não eram lágrimas que lhe afogariam. O tempo cura quase tudo e certamente veio o dia em que aquele sofrimento profundo se dissipou como uma vaga lembrança, ofuscado por banalidades do cotidiano que acabam por nos fazer rir, por outros probleminhas aqui e ali, e por outros desafios mais sérios, mais excitantes e mais urgentes.

Quem se esforça para mudar de perspectiva, acaba contemplando o mundo de um ângulo estratégico. Desse ângulo, é fácil notar que tristezas e complicações são meramente presenças pontuais, mas que estão englobados, cercados, inundados em algo absurdamente maior, tão grande que fica difícil de ver toda sua magnitude. Tão imenso que o resto se torna pequeno. Esse gigante entre os gigantes é o que penso ser o sentido de nossa vida, o que te empurra a acordar todos os dias. É banhado por um instinto de sobrevivência que faz prevalecer quase sempre o sorriso.