Meu lugar

Quem decide morar longe convida para sua vida a saudade.

É como começar uma nova novela. Você está louco para ver o primeiro capítulo e conhecer as tramas diferentes que virão. Sabe que vai adorar os novos personagens e enredos, ou pelo menos torce para isso. Ainda assim, nada pode substituir a novela anterior. Sempre vai haver aquele desejo no seu inconsciente pedindo uma reprise.

Eventualmente, por mais que você ame as novidades, os amigos recentes, a rotina modificada, seu coração vai voltar ao passado e o carinho dessas lembranças causará aquela dorzinha no peito... E aí você se lembra que existe um vazio ali, forçado pela distância.

Saudade é a vontade de ter perto, de ter de novo. Manifesta-se na necessidade de se aconchegar no antigo, no familiar, no ontem. Saudade é o sorriso triste que nasce no nosso rosto quando começamos a contar uma história dizendo "Naquele tempo...".

De vez em quando, pedaços do passado literalmente vêm de volta para você. É o pai e a mãe que te visitam, o amigo que fala contigo no Skype. Nessas horas, a saudade explode em felicidade e alívio que não cabem dentro da gente e extrapolam. Seja por rever o sorriso pela câmera, ouvir a voz ao telefone, ou - melhor ainda - por sentir aquele abraço apertado, aqui, de verdade, em carne, afeto e osso. Matar a saudade é uma das melhores sensações do mundo!

Esses reencontros mantêm nosso espírito vivo nos momentos difíceis. Mas não é só de pessoas que sentimos falta. Há também a vontade de resgatar lugares, cheiros, climas, tradições. É a saudade de estar no seu canto, na esquina por onde você sempre passava, na barraca de pipoca em frente ao cinema perto de casa. Saudade de andar na rua e ser reconhecida, e ouvir todos falando a sua língua.

Depois de três anos, estou nessa fase extrema quando a saudade é tudo o que sinto. Não basta virem até mim. Essa é a vez em que Maomé precisa ir até a montanha.

Chegou minha hora de comprar as passagens e fazer a mala. Cortar cabelo, fazer sobrancelha, depilação e unha, comprar roupa nova, presentes e ir! Voar até o Rio de Janeiro, querendo ficar bonita como se a cidade inteira fosse um marido que não vejo há anos.

Está na hora de sentir o calor carioca com aroma de praia. Andar pelo calçadão de biquíni e havaianas. Parar num quiosque e pedir açaí com banana. Meu coração só vai descansar quando eu comer feijoada, ver o Cristo Redentor e o Pão de Açúcar no horizonte. Preciso saborear manga rosa e goiaba, ir numa padaria pela manhã e pedir pão francês na chapa com manteiga e um pingado. Quero tapioca, funk, caipivodka.

Minha saudade é de falar português o dia inteiro, ir na C&A em vez de H&M, e ter que esticar o braco se eu quiser que o ônibus pare para me buscar no ponto. Quero chamar o garçom e girar o dedinho para pedir a conta, subir a serra de Petrópolis com suas mais de cem curvas, comer coxinha, empada, beber Nescau sem medo que ele acabe!

Já passei do ponto em que basta encontrar gente aqui. Eu quero ver minhas pessoas, nos meus lugares e saber o tempo todo que isso é BRASIL!