** Chegando no horário combinado, Pedro enxergou Sandra sentada num dos bancos da praça.
Apesar de trinta e dois anos sem vê-la, Sandra continuava ressaltando uma beleza especial que ele jamais logrou apagar.
 
* Na escolinha, durante o recreio, Sandrinha veio correndo e entregou a Pedrinho um papel com um coração desenhado.
_ Falta colorir - disse a menina agitada.
_ Está muito bonito, Sandrinha! De quem é esse coração?
_ É meu, Pedrinho! Você precisa prometer que vai guardar pra, quando a gente crescer, me devolver.
_ Eu prometo!
 
* Oito anos após tal promessa, Pedro, festejando dezoito primaveras, passeava com Sandra perto da praia.
_ Meus pais confirmaram a viagem para a Europa, Pedro!
_ A gente vai se afastar, Sandra?
_ Infelizmente, querido! Mas vamos manter contato através de cartas e telefonemas. Além disso, no período de férias, eu posso vir te visitar ou você pode ir me ver.
_ Fica, Sandra! Esse é o presente de aniversário que te peço.
_ Eu não posso. Preciso seguir com os meus pais e aproveitar a ótima oportunidade de estudo que terei no exterior.
 
* Sandra enviou duas cartas, telefonou apenas uma vez, porém, depois de dois meses morando na Europa, parou de responder às cartas do namorado e silenciou qualquer nova ligação.
Pedro deduziu que ela terminou aceitando a opinião dos pais.
O desprezo deles pelo rapaz pobre o qual não merecia o afeto da filha única, dona de um futuro bastante promissor, parecia que alcançou a concordância da fascinante jovem.
 
* Pedro concluiu o curso de Direito, conciliando estudo e trabalho.
Ele resolveu ficar solteiro.
Sandra visitava os seus pensamentos sem cessar, achava injusto e cruel oferecer um sentimento incompleto a outra mulher.
Imaginava que Sandra já havia concretizado o projeto de se tornar uma brilhante médica.
O rapaz não duvidava também de que ela já poderia ser uma senhora. Uma moça tão deslumbrante encontraria mil pretendentes interessados em cortejá-la.
 
* O moço não entendia a barreira que ela decidiu estabelecer entre os dois, contudo nunca permitiu a mágoa invadindo o âmago o qual só nutria carinho recordando a inesquecível namorada.
 
* Na noite passada experimentou uma surpresa incrível.
Sandra telefonou e marcou um encontro na praça principal da cidade que um dia ela, acompanhando os pais, abandonou definitivamente.
 
** Pedro cumprimentou Sandra e se sentou ao lado dela.
O diálogo fluiu com total naturalidade e prosseguiu várias horas.
Era enorme a empolgação dos dois cinqüentões.
Pedro havia completado cinqüenta anos na semana anterior, Sandra comemoraria a mesma idade no mês seguinte.
As informações reveladas fizeram Pedro confirmar que Sandra se tornou uma excelente médica a qual optou, entretanto, por parar de trabalhar cinco anos atrás.
A bela doutora se casou, mas provou a viuvez há quase uma década.
O casal não teve filhos.
Sandra descreveu o marido como um dedicado companheiro e grande amigo, contudo a ternura envolvente do esposo nada diminuiu do que ela sentia por Pedro.
 
A decisão implacável de cortar o intercâmbio com o rapaz não ajudou a esquecê-lo conforme ela imaginou que ocorreria.
Diversas vezes pensou em largar tudo e escolher, caso ainda fosse possível, a companhia de Pedro, porém o impulso do coração não ganhava a força capaz de estimular a ação.
A influência egoísta dos pais e a covardia dela sempre prevaleciam.
 
_ Pedro, eu sei que talvez seja muito tarde, mas eu preciso te fazer uma pergunta importante demais para mim!
_ Pode perguntar, Sandra!
_ Você me perdoa?
Pedro, meio trêmulo, com o coração palpitando, controlando a vontade de abraçar e beijar sua amada, declarando todo o gostar o qual ele, até aquele encontro, não sonhava mais desfrutar, colocou a mão no bolso, tirou um papel, entregou a Sandra.
Ela, observando a folha bem gasta, viu o desenho de um coração que uma animada menininha fez e, numa certa manhã, deu ao garotinho que desde cedo a conquistou.
Sandra segurou a folha a qual Pedro prometeu devolver no porvir.
_ Olhe, Sandra! Não falta mais colorir.
Sandra emocionada não disse palavra alguma e começou a chorar.
As lágrimas expressavam arrependimento e uma alegria indescritível.
Pedro, também chorando, falou:
_ A gente cresceu, eu acho que é o momento de te devolver esse papel. Afinal de contas, nós combinamos assim, lembra?
 
A noite avançava, o céu mostrava nuvens densas, um vento frio soprava, pingos de chuva caíam, no entanto as condições meteorológicas não incomodavam Pedro e Sandra, com as mãos entrelaçadas, sorridentes, um contemplando o outro, deixando transparecer uma afeição recíproca que contagiava o ambiente.
 
O romantismo puro, o acordo do período infantil, o pacto inocente e profundo o qual as vicissitudes não conseguiram desfazer, estava sendo ratificado naquela linda cena, provando que o amor verdadeiro não é uma tola ilusão ou doce fantasia.
Ele existe, pode permanecer e jamais conhecer o fim.
Depende de quem ama!
 
Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 27/04/2013
Reeditado em 27/04/2013
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