Amamos com ou apesar dos defeitos alheios.

Dizer que o amor é cego, seria simplificar demais as artimanhas desse sentimento-mor que move o mundo e seus habitantes. Não podemos definir os caminhos e descaminhos desse sentimento a partir do pensamento alheio. Quando amamos alguém, o nosso amor não pode ser comparado ao amor de nosso ser amado, pior então seria tentar definir o amor como um sentimento geral. Todavia, podemos tentar. Somos todos seres humanos e, nos caracterizamos por possuirmos tantos defeitos quanto virtudes. Defeitos e virtudes vislumbrados num grau de autoconhecimento, assim como na visão do olhar alheio. Deixemos um pouco as virtudes de lado. Quando o amor se aproxima, ou seja, quando começamos a nos deparar com uma admiração mais acentuada por uma outra pessoa, esta admiração não busca ou identifica de imediato os defeitos dessa outra pessoa, mas sim suas virtudes – aquelas as quais resolvi deixar de lado. A paixão, sentimento que avassala nossos corações antes que o amor se instale é voraz e extremamente desprovida de discernimento crítico em relação ao outro. Os defeitos natos, ou adquiridos, do ser pelo qual nos apaixonamos simplesmente não existem nesse momento tão conturbado de qualquer relacionamento afetivo que se inicie. Se aquele pelo qual nosso coração transborda em emoção não é possuidor das características que o identificam como uma pessoa bem colocada diante dos conceitos de beleza, ou mesmo sócio-econômicos dos padrões ocidentais desses mesmos conceitos, simplesmente sublimamos tais carências nos atendo apenas àquilo que satisfaz aos nossos desejos mais prementes. O amor acaba por ser o mar onde deságua todo este atormentado sentimento inicial que é a paixão. Nesse momento, quando o amor se instala, começamos a enxergar melhor o ser pelo qual nos apegamos de maneira sedimentada, consolidada. Se os "deslizes" desse “ser amado” não nos causarem problemas extremos – e em alguns casos, assim mesmo – nossos olhos e os olhos de nossos corações acabam por se habituarem àquilo que para nós poderia parecer um defeito. È certo então dizer que, de um modo geral, acabamos amando apesar dos defeitos alheios e, da mesma forma, amamos com os defeitos alheios. Está diretamente relacionado a esta conclusão, o fato de que se existirem preconceitos quanto aos “defeitos” alheios, o amor simplesmente não se inicia. Então, não seria então simplificar demais o sentimento com o qual todo ser humano sonha, dizer-mos que o “amor é cego”? Creio que não.