Quando a hipocrisia é mais forte

Eu tenho que falar. Lamentavelmente preciso dizer. É duro de aguentar quando a hipocrisia e a desfaçatez social resolvem, juntas, empurrar o lixo para debaixo do tapete e escolher um bode expiatórios para carregar o fardo da culpa que, por uma questão de justiça, deveria ser dividido entre todos.

A definição clara do que difere uma menina de uma mulher é a mudança de corpo, fato que costuma, por si só, chamar bastante à atenção masculina, porque as curvas atraem: isso é básico.

Uma vez mulher, mesmo que você se vista adequadamente, ainda assim irá atrair a atenção dos homens, principalmente dos cafajestes, que vivem para esse tipo de “apreciação”.

É claro que há mulheres que não sabem se vestir apropriadamente: parece que a roupa tem pouco tecido para cobrir o tamanho do seu corpo, lamentavelmente. Mas, daí a afirmar que o fim de casamentos se deve a jovens mulheres se vestirem inadequadamente é exagerar e muito para encobrir o fato de que esses casamentos não tinham nenhuma solidez, estrutura e maturidade, além, é claro, de uma tremendo machismo culpar sempre a mulher e atribuir as olhadelas cafajestes do pobrezinho homem ao seu fatídico e insuportável instinto de macho, que tanto o atormenta.

Então a mulher também não tem instinto? Pois quem a ensinou a mostrar as pernas ou os seios? Não seria isso também um instinto de explicitar sua sensualidade? É claro que ela precisa ser educada para guardar bem todo o seu “poder” embaixo de apropriados tecidos caso ela queira se vestir adequadamente para caber em qualquer ambiente. Não estou aqui defendendo o corpo de foram. Longe de mim tal coisa.

Mas a hipocrisia e a desfaçatez de fato residem em justificar a falta de postura do pobre e coitado do homem, da esposa ciumenta, sem autoestima, sem autoconfiança e sem nenhum preparo para lidar com essas situações, onde deveria haver confiança em seu relacionamento bem estruturado (normalmente porque falta estrutura) – esposa que, aliás, acredita que o mundo inteiro precisa ser perfeito e cooperar para que seu casamento dê certo - e atribuir a culpa unicamente às desavisadas jovens mulheres, por se vestirem, por vezes, inadequadamente ou mesmo por terem um quadril ou outras partes do corpo avantajadas.

É claro que há sempre casos de jovens mulheres solteiras que, propositadamente, atraem a atenção de homens casados. E isso é um lamentável comportamento, mas que precisa ser tratado separadamente e não generalizado, julgando todas por algumas, acreditando que se uma foi capaz, o melhor é se prevenir, pois todas serão. Não somos iguais. Somos diferentes.

É claro que fica difícil continuar frequentando tais grupos que dessa forma se comportam, pois é difícil escolher uma roupa para frequentar esses ambientes sociais sem imaginar que, talvez, você poderá ser considerada, no mínimo, uma mulher de conduta questionável. Ter sempre que se vestir de modo a se desculpar por ser mulher (por ter um corpo cheio de curvas atraentes, mesmo bem coberto) é, no mínimo, uma escravidão e um julgo muito pesado. É lastimável ser responsabilizada pelas escolhas de outros, ainda mais quando você faz a sua parte, se vestindo adequadamente, enquanto os outros apresentam um caráter duvidoso.

Cada um deveria ser responsabilizado apenas por sua parcela de culpa e não pela culpa inteira.

Marta Almeida
Enviado por Marta Almeida em 02/05/2013
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