O gafanhoto Harold e o eterno Beatle

Harold.

Fim da troca de óleo. De repente, pousa sobre o capô do carro um gafanhoto, que parece bastante familiarizado com o mundo humano. Será Harold?

Está aqui no jornal que leio enquanto o moço da troca de óleo faz o seu trabalho silente e meticuloso: um gafanhoto entra no suit cor de rosa de Paul Macartney, durante o show do Serra Dourada. E Macca o agarrou com gentileza e, com muita presença de espírito e a fleugma característica, o nomeou “Harold”, convidou-o a saudar a platéia e, enfim, o libertou para as ocupações habituais dos gafanhotos. E ele se foi, ao que consta, nem um pouco empertigado com a fama repentina.

Pois, é: os humanos brasileiros vivem em média, 73,1 anos. E alguém disse que nos tempos midiáticos, um humano poderia teria quinze minutos de fama. Não achei informação sobre o tempo de vida dos gafanhotos, mas convenhamos que, entre eles, Harold não é mais qualquer um, pois teve os seus 30 segundos de fama determinados pela maior das lendas vivas do Rock And Roll.

Gafanhotos, diz o Google, nascem de ninhadas de 500 indivíduos e, uma vez despertos de vida, tem que cair no mundo, para cuidar de si. Mas, a coisa não é fácil e, por isso, usam a estratégia do deslocamento em nuvem, fazendo volume, barulho e movimento sincronizado para afastar os predadores, até chegar a um lugar onde possam se alimentar, cricrilar, se reproduzir e, enfim, descansar em paz. Inicialmente, o desafio é vencer os pássaros. E, já no chão, pedradores arbóreos e terrestres, que incluem aves, camaleões e, outros répteis, animais e insetos.

Existe o destino, e o tímido e casual coadjuvante do astro do Rock é parecer ser a prova. Porque o pequeno inseto baixou no estádio Serra Dourada naquela noite mágica? Talvez o fato tenha ocorrido por causa de sua alma e corpo instrumentalizado de músico - como resistir aos acordes das músicas de tão notáveis melodias? Ou terá sido a cor do suit rosa de Paul Macartney que se mostrou familiar e lugar de pouso seguro depois de um voo longo e cansativo, no meio daquela parafernália de luzes que lembravam uma mansa forma de raios noturnos.

Destino: ao que parece, na linha da vida de Harold estava escrito que deveria ficar famoso, embora tal efeméride seja algo absolutamente estranho na vida de um ortóptero e não lhe sirva para nada de prático - sobrevivência, garantia de alimentação farta ou, reprodução da espécie e, então, o fim, quando se vão as forças para saltos e voos e tudo se resume à espera de um predador breve e certeiro, à alternativa da queda no solo e o embate horrível e longo com pequenas formigas carnívoras...

Mas o que escrevo é, em parte, conjectura, pois nada se pode apurar a respeito destes seres estranhos, temidos (pelo menos desde o evento bíblico das sete pragas do Egito) e um tanto misteriosos, que apesar alados, vieram ao mundo dotados de pernas estupendas para saltos...

Preciso ir. Após a partida do carro, o gafanhoto levanta voo.

- Um bom dia, de “branca paz de um céu limpo*”, Harold!

* Verso de uma música “Estação das Aves”, gravada por Luiz Augusto e Amauri Garcia...

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Em 11.05.2013 - Depois do show, leio agora nos jornais da cidade, produtores e gente ligada ao governo e turismo se apressaram em dizer a Paul Macartney que os ganhotos verdes que lhe deram algum trabalho durante o show são o que chamanos por aqui de esperança, uma espécie do inseto ao qual se atribui sorte, quando pousa dentro das casas ou objetos pessoais. Conversa fiada: Harold e sua turma, dá para ver pelas fotos, se tratava mesmo era de uma nuvem de gafanhotos semelhante à indicada apenas na tonalidade externa.

Pelo que se viu das reações posteriores do velho Beatle, houve algum exagero na preocupação. O cara até achou graça do evento insólito.

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Em 14.05.2013: na revista Veja desta semana, um especialista da Universidade Federal de Goiás afirma que a espécie de gafonhoto que baixou em nuvem no show de Macartney era da espécie conhecida popularmente por "esperança", cuja vida não passa, agora sei, de trinta e cinco dias. Mas, eu continuo na minha: a própria foto estampada na revista indica que se trata de espécie diferente, sem aquela forma oblonga e afinada típicas das esperanças, que são uma espécie própria, entre os ortópteros.

Aqui estão dois links que resolvem as dúvidas a respeito:

http://maravilhasdocerrado.wordpress.com/2012/08/23/grilos-gafanhotos-e-esperancas/

Quer tirar a dúvida? O primeiro link é da espécie que chamamos de "esperança", à qual atribuimos sorte. E o segundo de espécies de gafanhotos esverdeados: