POTE DE OURO (EC)

Quando viu o arco-íris, lembrou-se dos tempos de infância...

Acreditava piamente que se conseguisse chegar à extremidade daquele desenho de sete cores, que brotavam em algum lugar do céu e terminavam lá no horizonte onde escapavam de seu olhar crédulo, encontraria um pote de ouro.

O pote de ouro do fim do arco-íris!

Ah! Essas mentirinhas dos adultos.

Toda criança jura que há, nos anos dourados da ilusão.

Ilusão, nada! No seu caso fora a mais pura verdade...

Senão, como estivera ele naquele estádio lotado de torcedores gritando o seu nome, quando subia os degraus que levavam ao gramado. As cores da bandeira no uniforme, a grama verdinha, o céu azul. Como era quase noite, o lusco-fusco da tarde era aos poucos substituído pelo branco das luzes dos refletores. No centro do gramado, uma bola branca esperava pelo pontapé inicial da final da Copa do Mundo.

Tivera um momento de glória maior... Carregara a tocha dos Jogos Olímpicos. O fogo contrastando ao alto com a significativa bandeira das Olimpíadas. Branca, argolas negra, verde, vermelha, amarela e azul entrelaçadas, representando cada um dos cinco continentes e assim os povos de todas as cores.

Um sorriso escapou...

Veio-lhe o passado de menino pobre que antes de seu sonho se realizar, sofreu muitas vezes vendo seu time de uniforme alvinegro ganhando e perdendo dos uniformes alviverdes, tricolores, entre outros já desbotados na memória.

Igualmente vieram-lhe outras imagens... Dos tempos em que fazia pipas que coloriam o céu a imitação do arco-íris. Na época das festas juninas fazia balões com gomos azuis, outros verdes, uns vermelhos que ao subirem ao céu iluminavam a noite, sobre os olhares felizes das vestimentas de tantas cores misturadas. Camisas xadrezes, vestidos de tons diversos.

Nestas festas, a cor do rosto também se alterava. Amarelo de medo na hora de pular fogueira e dos busca-pés. Vermelho quente quando durante a quadrilha gritavam “change-de-dame” e podia pegar na mão e dançar com todas as meninas do vilarejo.

Depois corria a contar essas aventuras pro seu alvinegro vira-lata.

Linda morena! Morena, o teu cabelo não nega, que és mulata na cor... Também havia loirinhas com ou sem olhos de cristal a refletir os desejos adolescentes nas noites de carnaval, cheias de confetes e serpentinas.

Teve outras horas de medo. Muito medo! O pessoal de verde-oliva resolveu perseguir a turma vermelha. Sumiu tanta gente. De todas as cores. Por uns tempos, o céu deixou de ser azul claro e nublou-se, cinzento.

Nessa época, surgiram em sua vida aqueles olhos verdes que ofuscavam a luz de um abajur lilás. Tinha lábios de carmim.

Deveriam ser... Eram sim!

Enfeitiçava-o, nos inúmeros instantes felizes que tiveram em seu carrão...

O primeiro carro!... Mustang cor de sangue?... Corcel cor de mel?... Imprescindível descesse a Augusta a cento e vinte...

Qual o que? O primeiro carro foi o que deu para comprar. Fusca cereja...

Ao menos não era uma Brasília amarela.

Nem pensar... Isso, nunca!...

Sem radicalismos...

Achava que nunca...

A fase áurea passara e naquele domingão não houve outra opção para ir à praia...

Entretanto, deliciosa a sensação de volta à infância!

O mar já nem tão esverdeado como naqueles tempos, mas ainda encontrava o azul lá onde estava escondido seu pote de ouro... Deitou-se na areia para “pegar um bronze”, esquecendo-se que branquelos só ficam, mesmo, é vermelhos. E ardidos nos dias seguintes.

Não tinha importância... Matando a saudade, deita-se ao calor do sol amarelo e dorme.

De repente, desperta, envolto pela escuridão da madrugada fria.

Em instantes, percebe: fora apenas um sonho...

Jamais fora à Copa, nem a nenhuma Olimpíada.

O restante era de pouca importância. Não tinha grande atração por carnavais, nem para detalhes automotivos. Também não era de ficar ardendo na areia.

Festas juninas, sim... Adorava e as frequenta até hoje.

De todo modo, um segundo de tristeza... Bateu-lhe certa decepção não houvesse tudo sido realidade...

Reflete, enquanto tenta voltar ao sono que não vem a devolver-lhe aquelas vívidas imagens.

As imagens do menino que acreditava no pote de ouro foram se tornando esparsas e quase somem...

Hora de levantar... Mais um dia de trabalho...

Olhar no espelho...

Um sorriso!

É que apesar de já estar em tempos de parcos cabelos brancos, às vezes, ainda acredita haja um pote de ouro na ponta do arco-íris.

Abre a janela e olha o céu...

Vê o arco-íris...

Na cidade descorada nem dá mais para ver o horizonte, onde lhe espera um pote de ouro. Mais que nunca tem certeza que ele está lá...

Basta sonhar!...

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Há potes de ouro

Coloridos arco-íris

Os sonhos diários

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Este texto faz parte do Exercício Criativo - A Cor da Saudade

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Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 13/05/2013
Reeditado em 13/05/2013
Código do texto: T4288164
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