A Vantagem Em Se Ter Tantos Irmãos

Há alguns dias,o rapaz que corta meu cabelo não devia estar num bom momento,e errou no corte. As pontas eram visíveis,e cada lado estava de um tamanho.Como não tenho espelho que me permita ver a nuca,peguei a tesoura pra acertar,pelo menos,a frente e os lados.

Enquanto fazia isso,me deixei levar pelas lembranças,e voltei aos tempos felizes da infância.Recordei as muitas vezes que eu e minhas irmãs cortamos os cabelos umas das outras. Ri sozinha, lembrando das

tantas vezes em que o corte não ficou como deveria, e do choro ou da briga que resultava desse fracasso! Só nos restavam, nesses casos,duas alternativas; a gente tinha que encarar a gozação dos colegas,ou ficar um bom tempo sem brincar na rua!

Isso me fez pensar na vantagem de ter tantos irmãos - éramos doze!

Aprendemos a cortar cabelo, costurar, bordar...tudo sem nunca termos feito qualquer curso. Aos quinze anos, já fazia minhas próprias roupas. A calça jeans ainda não tinha chegado ao Brasil, e eu fazia as calças compridas que gostava de usar.E, ainda inventava moda! Fazia macacões com bolsos-envelopes, cintos de fivelas e fecho-eclares, sem precisar de molde. Apenas de uma irmã que pudesse provar a roupa.

Costumávamos ir com a nossa mãe comprar tecidos no varejo das próprias tecelagens. Duas fábricas disputavam a preferência das modistas da época: A Fábrica Deodoro e a Fábrica Bangu.

Minhas irmãs ganhavam cortes inteiros de fazenda pra representar as fábricas em desfiles de moda,bastante frequentes então.Era a época da saia godê,dos boleros sobre vestidos de alça,dos vestidos tubinhos e dos casaquinhos de fustão.Cada uma delas era capaz de fazer as roupas que usavam na matiné do Clube Militar onde eram realizados os concursos.

Foi o erro do meu cabeleileiro que me permitiu fazer essa viagem no tempo,e resgatar momentos tão especiais da minha adolescência,que julgava perdidos...Nunca pisei numa passarela,mas vi muitas vezes as minhas irmãs ganharem os prêmios de primeiros lugares, depois de serem muito aplaudidas.As vezes que eu não vi, foi por estar dormindo na mesa,coisa tão frequente quanto as vitórias das minhas lindas e elegantes irmãs!

Sonia Villarinho
Enviado por Sonia Villarinho em 13/05/2013
Código do texto: T4289302
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