Foi por volta de 1965 a cidade de São Paulo e também a Grande São Paulo eram castigadas por uma estiagem , eis que as represas de Guarapiranga e “Billings”-únicas fontes- estavam pràticamente vazias.Calamidade à vista.Imaginem a grande cidade sem água para beber,lavar,cozinhar e indústrias e comércio parando. Naquela época não existia o atual sistema  Cantareira. Aquelas represas eram as únicas que atendiam a Capital metropolitana e a falta dágua na Capital – seca mesmo- era um preocupante fenômeno natural que incomodava a velha Light- administradora do sistema hidráulico com bombeamento à metrópole e todos os órgãos oficiais que se relacionavam direta e indiretamente com o gravíssimo problema de interesse e ordem pública. As represas Guarapiranga e “Billings” tinham 3 a 4% de suas capacidades de reservas...Estavam secando...
Trabalhava então nessa época na reportagem do ESTADÃO e fui incumbido de fazer cobertura exclusiva e inédita até então: voar num B-25, avião bombardeio norte-americano, da 2ª. Guerra Mundial, já pertencente à Fôrça Aérea Brasileira.(FAB).  A indústria Kibom entregou- graciosamente- naquela tarde em Cumbica(aeroporto de Guarulhos) –era área exclusiva dos militares e a  encomenda especial-CO2 (dióxido de carbono) congelado,(duro como pedra)-numa caixa de madeira- na base militar ,ao lado do avião.. Hoje,o aeroporto internacional de Guarulhos que mais tarde levou o nome de um ex-governador do Estado, cujo nome ninguém fala,nem lembra, como acontece-(igualitàriamente) com o estádio do Pacaembu  além de outros ....como o Maracanã...e assim vai.
No País há coisas de “pegam” e coisas que não “pegam”,por mais que se queira homenagear as pessoas falecidas e que fizeram ou não história.... Aquele imenso bloco super-gelado foi quebrado na  pista com marteladas e desprendia gases do estado sólido sem passar para líquido e levados imediatamente na parte traseira do imponente avião, de onde seriam jogados em pedaços sobre as nuvens “cumulus nimbus” para provocar o que se chama de “chuva artificial”.A missão era ultra secreta.Só O ESTADÃO estava presente. Eu fiquei de pé na cabina,desconfortavelmente, entre dois tenentes no manche,além de um sargento-meteorologista,ao meu lado.O tenente comandante não queria me levar alegando excesso de peso e só concordou depois de aceitar o vôo sem uso do meu pára-quedas!(sic).Mesmo assim fui! Atrás – onde ficaria uma metralhadora- numa janela aberta um sargento que jogaria as pedras de CO 2, acompanhado de fotógrafo do jornal,que ficou na parte traseira(onde supostamente seria o lugar de uma metralhadora). No meio da aeronave nada existia pois era compartimento para bombas reais e destruidoras...Não era o caso da missão! Para entrar no B-25 era pela “barriga” por um alçapão. Não tinha escadinha...Não me deixaram ficar no nariz envidraçado à frente, porque seria “impressionante”... foi a alegação do tenente.Cheguei a engatinhar no corredor porém pediram para voltar.Obedeci,ao tentar me acomodar no desconfortável avião.Fiquei de pé entre os dois oficiais.
A operação foi –exclusiva ao jornal - ultra sigilosa até o dia seguinte,com a publicação e a Força Aérea Brasileira aceitou patrioticamente o desafio usando um velho avião a “bombardear” nuvens “cumulus nimbus”, que se encontravam esparsas sobre a grande cidade,em especial na zona Leste,de Sampa.Só esse tipo de nuvem faz chover! Voamos com a aeronave até atingir 10 quilômetros de altura, sobre as enormes nuvens – aquelas que parecem algodão ao fundo de um céu azul .E a cidade de São Paulo lá embaixo parecia um tabuleiro de xadrez. Nada se via...Estava em companhia do fotógrafo Domício Pinheiro, exímio na arte da foto-jornalismo e, como  dizia um autêntico “pé frio”, pois, quando estavava há anos casualmente em Buenos Aires, para fotografar amenidades teve que correr até a Casa Rosada, bombardeada, vitima de aviões onde Perón estava sendo alvo de um golpe militar,na Casa Rosada.   Golpe de Estado, onde numerosas pessoas morreram.Em Buenos Aires, Domício mudou o foco da máquina como bom jornalista que era e forneceu ao ESTADÃO ,em primeira mão, as fotos de um golpe na vizinha Argentina.  Dizia que por “ser pé frio” o avião certamente ia cair...O sargento para agravar o clima disse que realmente aquela aeronave já tinha descido de barriga em Cumbica e que havia sido restaurada pela FAB, mas voaria mesmo com um só motor funcionando. Eram dois potentes motores fabricados em 1941 quando os Estados Unidos entraram na 2ª. Grande Guerra... um pássaro de ferro,sem acomodações...
Ao atingir a altitude desejada, quando as pontas das asas do velho avião guerreiro começaram a congelar, começou aí o bombardeio e as nuvens recebendo o gelo seco os ciclos mudaram (ventos que sobem e descem ,impiedosamente) a despejar água impunemente ante intensa chuva.As “cumulus nimbus” têm ciclos de frio acima e quente em baixo bem semelhante a uma fervura de água numa panela,num fogão doméstico. Quebrou-se esse movimento cíclico pela B-25.!!E começou a agitação,com ventos,raios,trovões:a chuva veio para valer....
O medo tomou conta de mim enquanto o pessoal da aeronáutica cumpria,em silêncio, valorosa missão, sem alguma alteração. Por vezes, entre raios –passavam pelas laterais- trovões e turbulências, parecia que nada acontecia.Eram  insuportáveis. Numa prancheta perguntava ao sargento se estava acabando meu oxigênio... o avião não era pressurizado e, por conseqüência todos – sem exceção – usavam máscaras para respirar em elevada altitude. O sargento escrevia respondendo na prancheta que não estava acabando o oxigênio, para meu alívio.A chuva era tão intensa que passava até pela fuselagem da cabina...e pingava,como em casa de malandro e pingos d´agua caiam no colo dos tenentes:comandante e sub. Naquela tarde a volta da aeronave a Cumbica foi de arrepiar, pois não havia teto e nem  visibilidade e os heróicos tenentes desceram ,sem visão,na raça,no então antigo aeroporto militar,normalmente.   Mais uma missão cumprida....O céu não era mais de brigadeiro. A chuva só atingiu a zona leste de São Paulo e pouca coisa foi resolvida quanto ao reservatório  das represas. Até que dias depois choveu para valer e restabeleceu parcialmente os mananciais . São Paulo continuou a sua vida indiferente a tudo. A cidade que nunca dorme. Lógico, sob as asas da Fôrça Aérea Brasileira. A FAB é simplesmente um orgulho nacional!! Valeu valorosos homens do “Senta Pua”, slogan dos pilotos brasileiros na Itália, quando o País aderiu ao grande combate, ao lado dos Estados Unidos, n 2ª.Grande Guerra. Se  o País necessitar de nova empreitada, no jargão militar, a FAB estará de “prontidão”...com seus tenentes e efetivo que usam e/ou usavam sucatas voadoras impunemente,em benefício da nação.