O SITIO

Estávamos sentados. quietos, eu tomando uma taça de vinho, e ela arrumando alguma coisa em uma bermuda jeans.

Manhã linda, de outono. uma brisa suave tocava o nossas faces, ao mesmo tempo que os raios do sol tocavam parte do nosso corpo com meiguice.

Vez ou outra olhávamos para as montanhas que estavam a menos de um quilometro de distancia, a neblina dissipava lentamente, como pequenos flocos de algodão que se soltavam do capim, e das arvores.

--- eu adoro ficar aqui, por mim, ficaria por muitos e muitos dias. - disse, olhando para a relva molhada.

Aline sorriu.

--- eu também gosto de ficar nessa tranquilidade bucólica, mas acho que não conseguiria ficar mais que três dias.

olhei em seu olhos.

--- eu ficaria a vida toda. Preencheria o meu tempo, mexendo na terra, aparando o jardim, cuidando dos peixes, arrumando a horta. enfim, eu ficaria cansado durante o dia e dormiria a noite na paz do dever cumprido.

ela riu...

--- duvido! Você é tão agitado quanto eu, gosta de movimento, de vozes, da balburdia, acho que logo enjoaria.

Ingeri um gole do vinho tinto suave. ela tinha feito um bolinho de chuchu, que nos impedia de comer um só.

--- acho que você esta enganada, cheguei ao ponto crucial da minha vida, onde a tranquilidade o silencio, a paz espiritual é mais importante do que a agitação do dia a dia.

--- pago para ver.

--- cuidado. - retruquei. --- você pode ficar devendo. Sorri.

--- Claiton, você teria mesmo coragem de vir morar no sitio, sozinho.

desta vez foi eu quem sorriu.

--- quem disse que eu quero ficar sozinho, eu quero você aqui comigo.

ela parou de arrumar a bermuda jeans.

--- não querido, eu não conseguiria, eu não seria feliz.

tomei um novo gole do vinho.

--- não posso critica-la, você ainda é jovem, e tem tempo para chegar nos pensamentos que eu tenho hoje, a partir dos 60 anos, você começa a ver a vida de uma maneira completamente diferente. O importante não é mais o futuro, mas sim o que você viveu no passado. a família que você construiu, as tristezas que sentiu, os prazeres e as alegrias que o mantiveram vivo. quando você chega nesse ponto, você quer paz, e esperar não digo submisso pelo final, mas consciente do dever cumprido, e que este final seja feliz, alegre e calmo.

ficamos em silencio.

o sol tocou nossos pés primeiro, depois o corpo inteiro.

nos beijamos. Sorrimos. Era bom estar ali, na quietude do campo