Biográfico

Eu corri o mundo, nasci sozinha, experimentei o novo, conheci a tristeza de perto através de falsos amigos. Emergi de desilusões, coloquei as humilhações no bolso e segui adiante. Desconstruí mentiras debaixo do meu nariz alimentadas pela inocência de criança, desmistifiquei medos, me remontei diversas vezes até compreender o vazio que existia e sufocava. Silenciei para não exceder as palavras, tive um monte de coisas, gastei aos tubos, mas nesse mundo que gira perdi tantas outras e deixei algumas para trás, não por orgulho, mas por caráter. Aprendi a ver a vida com outros olhos e em cada tropeço minha relação com a verdade ficava mais clara. Conheci o inferno alguns dias, o céu várias vezes. Caí tanto, ralei meus joelhos como garota arteira, dei topadas no que era preciso enxergar, dei com os burros na água. E me dei. Muito. Para o que eu acreditava, para pessoas ao meu redor, para o trabalho que sugava o sangue das minhas veias, para amores, para paixões difíceis, paixões de sempre, e aquelas que iam e voltavam. Colecionei algumas derrotas, mimei umas vitórias que me roubaram sorrisos inesquecíveis, abri o álbum de memórias e senti saudades de algumas pessoas, cheiros e travesseiros. Brinquei com corações, como alguém que se acha muito experiente na arte de roubar emoções, mesmo sabendo que eu não roubava: eu frustrava todas elas. Criei novos laços, desfiz uns nós insistentes, brinquei de gato e rato com o discernimento.

Hoje não me arrisco tanto. Olho para os joelhos cheios de cicatrizes e lembro das dores sustentadas até aqui, das brigas sem motivo, do tempo perdido com coisas pequenas e sem fundamento, com atitudes vazias, e dou graças a Deus por essa coisa chamada vida que muda tanto. Agradeço por que não sou tão tola para acreditar em destino, nem tão frívola para desacreditar sentimentos. Sei a minha dosagem. A vida me presenteou com isso. Hoje não dou mole para o azar, nem chance para o abismo. Sempre que eu fico distante de mim, faço o caminho de volta e percebo o quanto valeu a pena esperar, suportar, me fazer de tonta, engolir o choro, ignorar tolices ditas, guardar a viola no saco e silenciar. Então, sou tomada por um novo ânimo, tão reconfortante quanto cheiro de novo e comida caseira.

O ânimo de entender que a vida, embora imprevisível, é linda!

ARYANE SILVA
Enviado por ARYANE SILVA em 22/05/2013
Reeditado em 28/04/2014
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