O MALABARISTA

O MALABARISTA

13 DE FEVEREIRO DE 2.005

Dia de verão. O sol estava tão forte que o asfalto parecia soltar labaredas de fogo. Eu suava dentro do carro, não tinha ar condicionado.

Três semáforos seguidos distanciam de no máximo 250 metros um do outro. Uma fila enorme de carros aparelhados uns aos outros. Percebi que assim que o sinal vermelho aparecia, um casal e um garoto de no máximo 14 anos se postava a frente dos primeiros carros e fazia malabarismo cada um com um objeto diferente. Os adultos eram exímios na arte, o jovem porem parecia um aprendiz, as bolas caiam e ele rapidamente as pegava envergonhado.

Sinal fecha. Sinal abre, e lá estava eu diante daquela família de artistas de rua.

Ri quando o garoto derrubou as bolas e uma delas veio parar próximo ao pneu do meu carro. Ele sorrindo, porem envergonhado se aproximou.

--- caiu... Hoje esta caindo mais do que ontem.

Sorri. Tinha 5 reais junto ao cambio.

--- tome menino, mas acho que você deve tentar outra coisa, que tal estudar. - ponderei lhe dando o dinheiro.

O menino sorriu novamente, dentes perfeitos.

--- eu estudo, quero ser policial. - retrucou.

--- profissão nobre, porém pouco valorizada. - o sinal continuava fechado.

--- eu sei, mas quero ser guarda de transito, fazer malabares com o apito. - ele riu.

O sinal abriu. Acelerei.

--- então estude, quem sabe você seja um bom guarda de transito.

13 DE FEVEREIRO DE 2013

A minha cidade cresceu muito. O transito é infernal. Ruas estreitas, calor de verão. São 15 h, eu tenho uma cirurgia marcada para as 16 h, o transito não anda.

São 3 sinais consecutivos. De longe eu vejo um guarda de transito. Ele apita. Bate os calcanhares. Rodopia, direciona o transito, ora para cá, ora para lá. O trafego começa a evoluir rápido, porém a sua presença chama a atenção dos transeuntes. Um artista fazendo o seu trabalho policial, até nós motoristas ficamos embasbacados. Parece um gentleman. O seu uniforme é impecável. O bastão rodopia em sua mão, o apito segue os movimentos. Há cada gesto, um movimento diferente, alguns dos apreciadores batem palma. Seguro a aceleração do meu carro, quero ficar bem próximo para vê-lo comandar um transito tão caótico.

Sua fisionomia me parece conhecida. Firmo os olhos, um pouco cansados. Ele se aproxima altivo, sorridente.

--- boa tarde senhor. - sorri. Seus dentes são perfeitos.

--- boa tarde. - respondo, lembrando-me das bolas que caiam a todo o momento.

--- escutei o seu conselho senhor. O que acha agora da minha performer. - sorriu, e retirou algo em um envelope e deu-me pelo vidro abaixado.

--- magnifico.

O guarda deu dois apitos estridentes, eu acelerei e sua imagem foi se perdendo no espaço.

Cheguei ao hospital afoito, antes abri o envelope.

Obrigado senhor. Escutei o seu conselho. - isso estava escrito em um papel a mão.

Junto, uma nota de cinco reais. A mesma que eu lhe dei a 7 anos passados.

Só não vence na vida, aquele que espera que tudo caia do Céu, a vida é feita de lutas, de alegrias, de tristezas, de problemas, mas para tudo existe uma solução.

Nunca desista dos seus sonhos.