CANTAREIRA E MEU EMPREGO.
Um fato eu, realmente, questiono,ou seja, qual a idade média dos que colaboram e lêem  o “recanto das letras”,já que quando escrevo não sei qual a faixa etária que alcanço e se afinal,agrado.Tenho a boca torta do cachimbo,por ter sido repórter e nem sempre o assunto pode agradar...embora alguns já se manifestaram positivamente,acredito,mais,por gentileza do que por qualquer outro motivo...Hoje,60% da população brasileira,estão na faixa de aproximadamente 20/30 anos...
Tirante esse intróito, vou contar uma história que escrevi no jornal – ESTADÃO-e, quase fui despedido, não fora a Chefia de Reportagem,na época, a cargo de um grande colega-chefe,Natal Sartoretto...
A historia é a seguinte=Quando residia em Sampa, morava na zona norte,bairro de Santana e todo dia,tinha que atravessar a linha férrea que passava no meio da avenida Cruzeiro do Sul,para chegar ao centro da cidade...A linha era da ESTRADA DE FERRO CANTAREIRA,que na época ligava as seguintes estações: Areal,Carandiru,Santana,Santa Terezinha,Parada Inglesa,Tucuruvi,Vila Mazzei,Jaçanã, Vila Galvão,Gopoúva,até Guarulhos...onde existe hoje o aeroporto internacional,com pompas e circunstâncias.Atualmente, o trajeto da antiga estação Areal até o final da zona norte- no mesmo lugar dos velhos trilhos- passa o metrô. De lá para cá muita coisa mudou...mas ao tempo da ESTRADA DE FERRO CANTAREIRA, transitava locomotiva antiga tocada a carvão e quando passava,soltava fagulhas por todo lado e quem estava de terno,certamente,perdia a roupa pelos estilhaços inocentes da “Maria Fumaça”,que devagar levava passageiros que residiam na zona norte...A locomotiva e vagões passavam em meio aos veículos,transeuntes, e, soberbamente cumpria seu dever circunstancial de locomoção.A bitola da linha era de 1 metro.Essa ferrovia lembra, o paulistano ilustre, Adoniran Barbosa,imortalizado, com sua música=”TREM DAS ONZE”...Quem não sabe? Quem nunca ouviu?
Bom, o problema é outro: como repórter, por volta de 1964, essa ferrovia foi desativada.houve um desmonte geral e todo o trecho foi suprimido.Deu até uma bela foto,na última página,de uma locomotiva sendo levada por enorme carreta... Como os trilhos permaneciam e o mato cobria os dormentes, aproveitei a idéia de falar sobre a desativação dessa velhusca ferrovia e via fone do jornal falei com um funcionário-diligente e elegante- que, me forneceu alguns dados dessa E.F.CANTAREIRA, que, segundo ele, ”nunca deu lucro desde a inauguração, no ano de 1907...sempre foi deficitária e coisas mais...”
Um prato cheio para quem trabalha em jornal e se alimenta de notícias, por dever de ofício.
A notícia saiu e no outro dia, Natal Sartoretto foi chamado na Diretoria. Esta queria saber quem mandou fazer a reportagem,sobre a E.F.CANTAREIRA...Natal assumiu o assunto e a responsabilidade...  Tudo se acalmou...Aí vi que meu emprego estava por um triz...por ter sozinho tomado essa iniciativa.O jornalismo tem coisas misteriosas...
Natal disse-me que o diretor da ESTRADA DE FERRO SOROCABANA, um tal “doutor” Homero, havia ligado à Diretoria e reclamado por ter saído aquela matéria,pois a E.F.CANTAREIRA era subordinada à sua administração e queria saber qual funcionário passou as informações...
Essa ESTRADA DE FERRO CANTAREIRA  nunca mais esqueci, pois o tal de “doutor” Homero era “amigo da Diretoria” do “jornalão”. Natal Sartoretto me salvou...Nunca mais escreveria sobre esse assunto, foi o que prometi...
Recente, vi uma estatística dos piores empregos e a de “repórter ,está abaixo de “lenhador”.
Isto,  é mesmo de lascar.