Profeta Gentileza  (José Datrino, 1917-1996) 

                 Sou Os Olhos Dele  

Por bem uns 12 anos trabalhei na Avenida Paulista. No início eu não gostava muito porque era muito corre corre e era sempre a mesma coisa todo dia. Era muito melhor trabalhar ou 'trampar' no Centro de São Paulo por que o velho Centro tinha um certo encantamento, um charme e suas vantagens. Sua bela arquitetura que abrange desde o tempo do Império até a modernidade. Passeando tranquilamente pelos calçadões você depara com o Casarão da Marquesa de Santos até o Copan com seu concreto armado e curvas livres e sensuais do mestre Oscar Niemeyer, a antiga escola Caetano de Campos que hoje é a Secretaria de Educação, o formoso Terraço Itália onde o chá das cinco é regado a petit fours, torradas com geléias e outros quitutes. Com certeza vai ser um momento britânico único na maior metropole da América do Sul.


          
                   Vista da cidade de São Paulo do Terraço Itália by day. 

Mas, os encantamentos não são duradouros como os diamantes do H. Stern. É como a paixão: um dia acaba ou é substituído por outra. Aos poucos fui me apaixonando pela Paulista e seus encantos mas meu grande amor sempre será o Centro.


"E se a paixão acabar?" - Patricia
"Então, você nunca realmente amou." - Rodrigo 

Procurava não correr junto com aquela  multidão de executivos, bancários, office-boys, etc. Nem andava com aquele salto alto que costumava usar pelo Centro. Após um mês o abandonei. Muito guerreira quem anda de salto naquela calçada de pedrinhas que enfeitam a grandiosa Paulista! Quem se mete a dar um de cowboy também! Eu andava uns quinze quarteirões indo e os mesmos voltando todos os dias porque lecionava em quatro bancos, inclusive o banco do falecido Ministro da Fazenda Mário Henrique Simonsen. Nunca cheguei a ver o homem pessoalmente mas estive no acervo de arte do banco dele. Nossa! E como aquele homem colecionava arte! A minha aluna tinha quadros magníficos na sala dela. Toda semana ela trocava os quadros por outros que fazem parte do acervo particular do Simonsen. Um belo dia fui convidada a escolher juntamente com a minha aluna e sua secretária as peças que seriam utilizadas numa recepção para um novo cliente estrangeiro. Fomos ao cofre e lá escolhemos os vasos de cristal para as flores e os arranjos e as estatuetas que dariam um toque extravagante às mesas onde as taças de champagne descansariam. Aquele dia valeu imensamente por que tive uma senhora aula sobre arte e como as obras foram adqueridas pelo Ex-Ministro Simonsen.
Trabalhando na Paulista também tive o imenso prazer de passear pelo Parque do Trianon. Celular era só pra CEOs e altos cargos executivos sendo assim, eu só sabia sobre o cancelamento de alguma aula 24 horas com antecedência que seria substituída dentro do mesmo mês, se não a empresa teria que arcar com o pagamento daquela aula não dada.  Algumas aulas eram desmarcadas e eu só era informada quando chegava na empresa e a secretaria do meu aluno dizia que ele já estava na FIESP ou no Banco Central para  uma reunião extraordinária com os VIPs da economia nacional e internacional. E assim, ficava eu livre! Livre para caminhar até o Conjunto Nacional e apreciar alguma obra de arte, como tive o enorme prazer de conferir "Life" da Yoko Ono.

                 


Mais tarde degustar um cafezinho feito na hora com um croissant de presunto com queijo ou quem sabe, uma voltinha no Trianon?

                

Quão prazeroso caminhar entre aquelas árvores mais do que centenárias em frente ao MASP de  Chauteaubriand.

                 


No coração do parque sua imaginação voa na cantoria dos pássaros enquanto olha pro céu e consegue apenas enxergar as torres gigantescas  que querem nos engolir com aquele arco-íris do mais variado de verdes.

"OUVIR O CORAÇÃO, É A DECISÃO MAIS RACIONAL QUE EXISTE."         - Fred Sá Teles

Avenida Paulista é também um convite para você exercer o seu lado samaritano.
Um dia, no caminho ao trabalho, deparei com um deficiente visual e pergutei se ele queria uma 'carona'. Ele disse que sim e fui logo tomando o braço dele no meu. Gentilmente, ele parou e falou, "Se você não se importar, prefiro colocar a minha mão no seu ombro. Tudo bem?" Respondi que sim e curiosamente questionei o porquê. Sempre ofereci o meu braço a qualquer deficiente visual e este vem com papo de mão no ombro. Ele respondeu que era melhor para andar. Ele me informou que alguns deficientes preferem segurar pelo cotovelo do guia. Mas, andar de braços dados, NUNCA! Se a gente fosse andar de braços dados, e se por acaso eu caísse, ele iria junto comigo.  Melhor a mão dele no meu ombro, né? Perguntei se era para eu rir e ele respondeu que não mas, se eu quisesse, tudo bem. Então, eu ri e muito! Mas não deixei de questionar porque os cegos andavam de braço em braço, e se um tombasse? Rindo ele falou que eram deficientes que agiam como os cegos do passado e que não tinham noção do perigo, pra não mencionar o desastre de dois cegos caíndo juntinhos, esparramando pela calçada ou numa rua. Onde já se viu, um cego guiando outro?  Ele riu debochadamente. É, ele era cego mas não burro. Comentei que ele tinha uma veia humorística boa, sarcástica porém boa. Ele respondeu que não tinha visão mas, que veia  pro humor com certeza ele tinha, e muitas e dependendo da companhia ele poderia ser engraçado.
Perguntei pra onde ele iria e ele me informou que estaria tomando o Metrô da Sé e indo pra Consolação. Eu disse que também estava rumo à Paulista e que se ele quisesse eu poderia acompanhá-lo até lá. Ele aceitou e lá fomos nós.              
             

Durante o trajeto nós nos apresentamos. O nome dele era José Antônio e trabalhava num escritório na Paulista na parte administrativa. Me apresentei dando primeiro nome e profissão. O José Antônio ficou feliz com o fato de eu ser professora de inglês e perguntou se ele poderia ousar a conversar um pouco em inglês comigo. Assim como tenho a paciência de Jó para ensinar inglês como segundo idioma, também tenho paciência para conversar com quem é aprendiz no idioma, então eu respondi que sim. E não é que o danado dominava o inglês muito bem? Quando ele perguntou o que eu achava do inglês dele respondi que ele tinha me surpreendido. Queria saber onde tinha estudado e ele falou que sozinho com a ajuda de um curso de inglês em fitas K7.
                

Uau! Inavcreditável! Conheço três pessoas que aprenderam línguas mais ou menos do mesmo modo: Amaury, meu primo que aprendeu inglês com LPs; o Luis, um colega que estudou francês com dois livros c/ K7 e a Berenice, uma aluna que estudou 5 livros e K7 para dominar o italiano num nível intermediário. Todos falam super bem os idiomas que aprenderam através de métodos bem diferentes do convencional daquela época. Querer é realmente poder! E eles almejavam aprender! 
Conversamos em inglês até chegarmos à Consolação onde me despedi do José Antônio mas antes ele agradeceu a minha boa ação do dia e eu respondi que quem estava grata era eu por ter tido tão boa companhia.  

                


No dia seguinte esbarrei com o José Antônio novamente e ao me aproximar ele me saudou com um, "Good morning my good samaritan teacher!" Soltei um, "Nossa! Como sabe que sou eu?"  Ele disse, "Seu perfume, oras! Nem todo mundo que pega Metrô usa 'Poison' né!" E ele riu. Ofereci carona e lá fomos nós novamente. Durante o trajeto comentei a exposição de arte no Metrô. Ele pediu para eu descrever uma das obras e assim eu fiz. Pensei comigo mesma o quanto deve ser horrível não enxergar algo tão belo. Imagine então não enxergar o rosto da pessoa amada, nem mesmo o rosto do próprio filho. O José Antônio elogiou a minha descrição da obra em questão e perguntou o que eu achava da mesma. Dei minha opinião e ele deu a sua prórpria em seguida. O rapaz era mesmo um ser especial e inteligente.

                 
Ao nos despedirmos naquela manhã, ele perguntou se eu pegaria o Metrô no mesmo horário no dia seguinte. Respondi que sim. Aliás, pegaria todos os dias uteis no mesmíssimo horário. Ai ele me perguntou se eu me aborreceria em dar carona novamente. Respondi que não. Não estava saíndo do meu caminho e era nenhum aborrecimento dar  uma carona básica. Repeti o que havia dito no dia anterior: "Apreciei a sua boa companhia."  Ele agradeceu e demos um, "Até amanhã!" 
Durante seis meses e pouco dei carona para o José Antônio e viramos amigos. Ele me agradeceu por estar sempre lá no Metrô da Sé e também por ter ligado quando houve a greve que parou a circulação dos trens para avisar que eu não iria trabalhar por achar melhor não me arriscar naquela loucura toda e perder tempo à toa. Com a tal carona que eu oferecia, ele podia dormir até um pouco mais tarde sem se preocupar por que o tempo que gastaria na caminhada e pegando o Metrô na Sé e depois pegar a linha que iria até a Consolação seria menor.
Neste tempo todo conheci um pouco da vida dele e o quanto era batalhador e guerreiro. Mesmo sendo deficiente visual, o José Antônio era quem mantinha a casa dos seus pais com o seu salário que era o mais alto do que dos seus outros dois irmãos que eram perfeitos. 

Com a chegada de julho entraria de férias coletivas e a preocupação com o José Antônio e a tal carona começaram a me preocupar. Como fazer neste período de 15 dias? Ele voltaria a fazer o itinerário sozinho ou com a ajuda de um ou de outro sem ter aquela confiança toda no seu acompanhante. As vezes a crueldade desperta nas pessoas quando menos esperamos e o José Antônio havia comentado sobre pessoas 'cheias de boas intenções' que tentaram enganá-lo ou até roubar sua carteira. Vida nada fácil de quem é deficiente e trabalhador numa metropole como São Paulo.   
Fiquei preocupada com o José Antônio e por isso fui em busca de um suplente para o meu cargo de guia. 
Após duas semanas de observação percebi que tinha um jovem rapaz que pegava o Metrô no mesmo horário e também fazia o mesmo itinerário que o José Antônio e eu. E aí um dia, numa das nossas viagens de ida até a Estação da Consolação ...
Procurei ficar perto daquele jovem e do nada, como quem quer nada, puxei papo com ele e logo o José Antônio também papeava com o moço. Conversamos sobre o Corinthians (sempre bom tema para torcedor do Timão!), o tempo louco na Capital e o feriadão que aproximava com o Gilson. Era assim o nome do jovem que eu havia escolhido a dedo para me substituir. 
Chegamos na Estação da Consolação e por incrível que pareça, o Gilson também tomava o mesmo caminho que o José Antônio e eu. Seria coincidência? Hummmmm...pra mim não! Pra mim era a conspiração dos anjos! 
Chegamos na Paulista e dizemos adeus mas o Gilson seguiria ainda mais um pouco o percurso com o José Antônio e ofereceu 'uma carona'.

OBS: Conspiração melhor que esta só a do meu conto "CONSPIRAÇÃO NO SUL", né Rodrigo? ;-)
Na manhã seguinte, parecia que tínhamos combinado e lá estava o Gilson na plataforma esperando o trem. Quando ele nos viu foi logo dando um bom dia todo animado, afinal era quinta-feira e seu Timão havia ganho na noite anterior. A conversa deu pano pra manga por que o Gilson havia ido ao jogo no Pacaembu e estava doidinho pra narrar desde a sua ida ao jogo até que chegou em casa altas horas depois. Ainda bem que gosto de futebol e não tenho preconceito, nem ódio de nenhum time, nem mesmo do Palmeiras. O José Antônio parecia bem interessado e sem mais nem menos eu falei, "Pôxa José Antônio! Parece que o Gilson tem melhor papo que o meu! Nunca vi você tão atento num papinho meu como tá com a narrativa do Gilson. Tô com ciúmes, viu!"  O José Antônio riu e respondeu, "Imagine Patricia! É que Corinthians é Corinthians né!" Não sei se ele piscou por que ele sempre usava óculos escuros mas, imaginei que tivesse. O Gilson olhou pra mim e deu um sorriso de quem tá por cima da carne seca. Olhei pro garoto e disse, "Fica aí gabando fica. Quero ver quando o campeonato realmente começar. Aposto que não vai ter estorinha como esta pra contar todo dia Seu Nelson Rodrigues meia-boca." E o Gilson foi logo perguntando quem era Nelson Rodrigues. Deixei o José Antônio cuidar do assunto e ele contou que o Nelson Rodrigues era um grande dramaturgo e também torcedor fanático do Fluminense. Gilson matou apenas um pouquinho da sua curiosidade e me pareceu que ele queria saber mais, por que fez perguntas e o papo continuou a rolar. Rolou tanto que foi até a entrada do prédio onde o José Antônio trabalhava e onde os dois se despediram. Claro que eu só soube na manhã seguinte sobre o papo todo quando encontrei o José Antônio e depois o Gilson que veio com mais assuntar sobre Nelson Rodrigues. E assim foi o nosso itinerário naquela sexta-feira até darmos nossos votos de bom final de semana juntamente com o bom dia. Ao caminhar para o trabalho pensei que aquela minha missão que parecia quase impossível agora estava mais próxima a se concretizar. Melhor impossível, eu diria!
Finalmente a segunda-feira chegou e em duas semanas estaria de férias! \o/ Aléluia! \o/   Não via a hora de descansar. Quem sabe ir até Joinville com as crianças pra visitar o pai delas  a Avó e os primos? Ficar uma semana lá e ainda aproveitar uns dias em Piracicaba com a Tia Lilú! Seria bom demais! Mas antes, eu tinha que dar um jeito de oficializar o Gilson como meu substituto e teria que ser ainda naquela semana. Sintonizei com Deus e também com os anjos conspiradores pedindo que o Gilson aceitasse esta missão afinal era pra uma boa causa e o José Antônio poderia continuar dormindo até mais tarde além de ter boa e confiável companhia durante as viagens de Metrô. 
Na terça-feira, enquanto andava pela Paulista, vi um rapaz com uma banquinha na frente do Trianon vendendo livros. Eram usados e segundo ele eram seus próprios livros que vendia por que segundo ele "precisava de grana pra comprar uns livros para o curso de engenharia". Dei uma olhada e ... PIMBA NA CHULIPA! O que os meus olhos abençoados pela Sta. Luíza enxergam? O que!? Mais uma bela conspiração: O Anjo Pornográfico de Ruy Castro! E por apenas R$15,00! Custava mais na Livraria Siciliano ou Cultura com certeza e ainda por cima este livro estava em ótimo estado!
                        

Quase novo em folha! Peguei o livro e paguei. O futuro engenheiro agradeceu e respondi, "Eu que agradeço! Não imagina como seu livro vai fazer alguém sorrir amanhã!"
Á noite, já em casa, embrulhei o livro biográfico e fiz uma dedicatória mais ou menos assim: Nada é por acaso Gilson. Caminhando pela formosa Paulista deparei com este livro e logo pensei em você. Se ainda tiver curiosidade sobre o grandioso Nelson Rodrigues, aqui encontrará as respostas. Um grande abraço da colega do Metrô, Patricia.
Amanhã será o Dia D! Vamos ver no que vai dar! Me deito e falo com Deus e os meus Santos pedindo proteção e para acordar com saúde e garra no dia seguinte por que tenho três filhos que ainda precisam de mim e preciso guerrilhar.
Quarta-feira amanhece como todos os outros dias mas hoje é o Dia D, se lembram? É como o último dia da novela das oito que passa mesmo só após o William Bonner dar sua, "Boa Noite."  
O Gilson chega e vai logo me dando os dois beijinhos no ar mas eu consigo plantar os meus singelos beijos em cada bochecha dele que o faz ficar vermelho. Acho que ele não esperava eu fazer aquilo e acabou perdendo a graça. Mas, foi só por uns segundinhos por que o José Antônio foi logo querendo dar aquele cumprimnto tribal de mão que haviam inventado. O trem chegou e entramos os três quase que juntinhos. Sentar? Quem me dera mas ficamos em pé mesmo e falei pro Gilson que tinha algo para ele. O José Antônio retrucou, "Nossa! A coisa tá séria, hein?" Eu olhei pro Gilson e disse, "Não liga não. Ele é ceguinho mas meio retardado as vezes. Toma aqui. Um presentinho pro seu aniversário." Gilson pegou o embrulho, agradeceu e disse, "Pôxa Patricia! Faço aniversário só em novembro." Eu respondi, "É que eu pensei que fosse canceriano. Você tem jeito de ser de Câncer. Sonhador como todo bom Corinthiano né. Mas já que comprei, pode ficar." E dei uma piscadinha pro Gilson e um, "Parabéns adiantado, tá! Presente dado e não vem me cobrar em novembro, viu?" O garoto riu  e foi logo abrindo o presente. Olhou e disse, "Porra! Nunca ganhei um livro antes! Nossa! É grande!" O José Antônio disse, "Sempre tem uma primeira vez né amigo! Diga logo o que você ganhou da Tia Patricia. Seria um Kama Sutra?!" Juro que fiquei indignada com o que o José Antônio falou mas o Gilson foi logo perguntando, "Kama Sutra? Quem é este cara?" E eu mais do que depressa falei bem baixinho perto do ouvido do Gilson mas num tom que o José Antônio conseguiu ouvir com seus ouvidos tipo radar que só cego e morcego tem, "Não se preocupe com o Kama Sutra agora Gilson. O José Antônio sabe tudooooo sobre o cara e ele vai te contar com certeza enquanto estou de férias por que ... sabe ...é um cara meio que pornográfico e eu ficaria encabulada ouvindo ele te contar detalhes." Nisso, o Gilson apenas balançou a cabeça que sim e o José Antônio fez cara feia e disse que ele não era daquele tipo de homem. E eu? Eu dei muita risada!
O Gilson leu a dedicatória e disse que também achava que nada acontecia por acaso. Fecha o livro, o enrola no papel de presente e guarda junto com o laço dentro da mochila. De repente ele diz, "Então, vai sair de férias? Vai pra onde." Eu conto os meus planos e digo que quando voltar trago um souvenir pros dois. O José Antônio fala com tristeza que vai sentir falta de mim mas, que sentirá mais falta de dormir aquela horinha a mais todos os dias. Sarcastamente ele ri da própria piadinha e eu digo, "Muito sem graça você Zé Mané! E eu pensando que você gostava mesmo era da companhia e que sentiria falta. Como eu me enganei." E o Gilson dá uma risada moleque daquelas e o José Antônio pede perdão. Ele confessa que gosta mesmo do nosso assuntar de todos os dias e me pede pra não ficar braba com ele. Digo que o deslize dele é história e o papo passa pras últimas festas juninas no SESC Pompéia e dos shows programados. Falei que iria com certeza por que eu era sócia de carteirinha e tudo mais assim como os meus filhos que praticamente nasceram lá dentro. Gilson e José Antônio não confirmaram presença mas falaram que talvez iriam no sábado à tarde antes deles irem ao futebol lá na Rua Javari. Eu olhei assim meia que sem noção e perguntei, "Nossa! Vocês dois estão assumindo a relação?!" O Gilson olhou feio e disse, "Pára caramba! Acho que tenho cara de sãopaulino é?"  Ri e respondi, "Cara não mas pinta de bambi, sim! rsrsrsrs"  José Antônio falou com voz grossa, "Só curto cuecão de couro Patricia! Bambinho não! Nem frangote!" Os três deram risadas e quem estava por perto também se contagiou com a brincadeira.
Depois de rirmos muito, José Antônio virou em direção do Gilson e sabiamente falou, "Sabe garoto, se você consegue fazer uma garota rir, você consegue fazer ela fazer qualquer coisa!" 
E o Gilson só mirou o José Antônio com seus olhinhos curiosos e perguntou, "Então Tio, cadê seu harém?" O nosso colega respondeu, "Em casa oras! Acha mesmo que vou desfilar pela cidade com elas?", e deu uma gargalhada disfarçada ao acrescentar, "Aquela frase não é minha. É da Marilyn Monroe, viu? E ela, bem, ela sabia das coisas! Como sabia!"
 
             

Quando finalmente descemos na Consolação, o Gilson zombou, "Então, quem vai ser os olhos do Tio Zé Mané aqui enquanto a Titia tá de férias?" O José Antônio ficou quietinho, parecia nem respirar mas eu falei, "Ué Gilson! Quem sabe não tá na hora de você redimir e pagar pelos seus pecados. Seria uma bela oportunidade de conhecer o José Antônio melhor também", e dei aquela piscadela pro o Gilson deixando ele sem graça e depois dei um tapinha nas costas do Tio Zé Mané. Mas o Gilson falou com muita seriedade, "Acho muita responsabilidade um garoto como eu guiar você Zé mas, se você não se importar em andar comigo, tudo bem. Vou gostar muito de fazer o que a Patricia faz por você." O José Antônio abraçou o Gilson e eu toda chorosa me despedi dizendo, "Droga! Vocês dois dando uma de bambis em plena Paulista e eu atrasada. Fui!" Dei tchau pros dois colegas e ao apressar o meu passo, enxuguei minhas lágrimas com a mão. 

E tem quem diz que tudo é coincidência ... será?

            

   
Calada Eu
Enviado por Calada Eu em 03/06/2013
Reeditado em 11/06/2013
Código do texto: T4323277
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.