Crônica XXIII - Gafe Geográfica

Ana Esther

Gafe geográfica... sei, para disfarçar e não dizer total ignorância geográfica, histórica... Bem, lá ia a Mochileira Tupiniquim pelas distantes terras gregas, na Grécia mesmo, para não restar dúvidas. Hospedada com muito carinho em Volos(norte do país)na casa de uma amiga, colega de estudos na Inglaterra, a Mochileira tirou uns dias para conhecer Atenas, é claro. Preparou sua mochila com o mínimo de peso possível e lá se tocou de trem de Volos com destino à capital grega. A chegada em Atenas já era por si só digna de uma bela crônica... mas fica para outra hora.

Naquele dia, no verão europeu de 1989, a Mochileira embeveceu-se visitando o Museu da Cidade de Atenas, a Biblioteca Pública Nacional e (ah!) o Museu Arqueológico Nacional... onde passou horas e horas admirando as esculturas e objetos de cerca de 7 mil anos! Saiu de lá embriagada com tantas maravilhas arqueológicas que até então somente vira em livros e documentários na TV. Tudo bem que estivesse embriagada com tanta cultura mas daí a cometer tamanha ‘gafe’. Eu explico. Saindo feliz da vida do Museu, ela pegou o metrô para Piraeus somente para ter o gostinho da experiência de andar no metrô em Atenas... quando desceu no final da linha é que deu-se conta de sua ignorância helênica. Caminhando por ali quase tropeçou num baita navio chamado Poseidon! Navio em Atenas?

Já deu para perceber a ‘santa ingenuidade’ da Mochileira, não se ‘lembrar’ que Atenas ficava perto do mar! Uma leitora fã de Homero e sua Odisseia em versos...que vergonha. Bem, para encurtar a tragédia, ela acabou comprando passagem para um famoso passeio a uma ilha grega, Aegina (Egina). No outro dia pela manhã,quase madrugada, lá estava ela e sua micromochila prontas para o passeio. Chegandona ilha, vibrou ao se deparar com as plantações de pistache, as ruinas legítimas doTemplo deAfaia, igrejas brancas com a bandeira grega. Pegou um ônibus local que a levou até a praia... Ah, o mar grego no verão, dia de sol... águas límpidas, cristalinas... e a Mochileira Tupiniquim de calça de brim pois não levara biquíni devido a tal gafe geográfica... Ficou lá só curtindo a praia e vendo os outros banhistas se banhando naquelas águas que deveriam estar deliciosas... Ficou lá a ver navios, ah, e a ver também um grego que pegava polvos no mar e depois os batia sem dó nem piedade na rochaaté matá-los e ia enchendo um balaio.

Ao retornar no final do dia para Atenas, a Mochileira olhou com olhos saudosos o navio chamado Poseidon que ainda se encontrava atracado por lá. Poseidon o deus grego dos mares... dos mares gregos, do mar que banha Atenas e a Mochileira não lembrava!