UM DIA PARA ESQUECER


Há dias, escrevi uma crónica sobre o ato tresloucado de uma jovem mãe que se desfez do seu filho enfiando-o num tubo de esgoto. Essa situação motivou reações desencontradas, dadas as caraterísticas do desenlace.
Hoje trago aqui o reverso da medalha, em três simples episódios:

- Há quatro anos, numa cidade do litoral norte, um pai esqueceu-se, durante algum tempo, do seu filho de tenra idade na viatura onde habitualmente o transportava para a creche. O carro ficou ao sol, com os vidros fechados e quando se lembrou e correu em seu socorro, encontrou-o já sem vida, não tendo sucesso nas manobras de reanimação.
Esse pai foi julgado e condenado a prisão, mas com pena suspensa, pois o juiz considerou que o fato de ter perdido o filho naquelas circunstâncias já seria castigo bastante e por toda a vida.

- Na semana passada, um bebé foi deixado esquecido numa carrinha da Santa Casa da Misericórdia de uma cidade da zona centro, que habitualmente transporta crianças para a creche daquela instituição. A responsabilidade recaiu no motorista da viatura, que tinha por função efetuar esse transporte. Felizmente que a carrinha estava à sombra e com os vidros abertos, o calor não era muito, pelo que o bebé nada sofreu.

- No dia seguinte a esse acontecimento, em Itália, um pai distraído deixou o seu filho, bebé, dentro do carro, ao sol e com os vidros fechados. Foram os avós que deram o alarme, pois constataram que o seu neto não tinha dado entrada na creche. Alertaram o genro que correu logo para o veículo e juntamente com populares tentou reanimar a criança, mas sem êxito, pois esteve durante algumas horas nessa situação, suportando temperaturas superiores a sessenta graus centígrados devido ao efeito de estufa.
Os pais foram internados no hospital, ele sob prisão, dado poder enfrentar a acusação de homicídio involuntário.

Não me cabe fazer juízos de valor sobre as atitudes que provocaram estas tristes situações. Talvez que a razão maior seja o stress da vida atual. Talvez. Ou então tudo não passa de uma questão de (ir) responsabilidade. Mas é inquestionável que o cuidado imposto quando se trata de crianças deve estar acima de tudo o resto. É que esquecer uma criança no carro não é o mesmo que esquecer um casaco ou uma pasta.

Três situações, só uma com epílogo feliz. De qualquer modo, para os protagonistas certamente que esse será um dia para esquecer, embora por razões óbvias, nunca o consigam olvidar.


10/06/2013