Extremamente delgada, como só as adolescentes de doze anos podem ser, tinha como sonho recorrente possuir seios. Seios de mulher adulta, porque aqueles, pequenas elevações incipientes só serviam para marcarem a blusa. Pior do que ser lisinha, era ter aqueles dois pequenos faróis acesos para todo mundo ver.

Restava o recurso de segurar a pasta de livros bem apertada ao peito, assim, bem displicente, fingindo ser essa a forma mais confortável de carregar o material escolar. Se nada houvesse para carregar, sobrava cruzar os braços. Compridos, pareciam se enrolar no corpo.

Hoje me pergunto:
- Por que os adultos não percebiam meu desconforto?
Eu mesma respondo:
- Porque os seios eram quase invisíveis.
Mas o problema estava, justamente, no quase.

Tínhamos uma empregada, nessa época, muito jeitosa com coisas de costura. Nos tornamos grandes amigas. Esta moça tão simples percebeu minha aflição e, generosamente, confeccionou um soutien para mim.
Difícil descrever tal peça. Com dois pequenos bojos de espuma estruturou algo parecido com os escudos protetores das amazonas. Presos por tiras de pano e abotoado com um botão de osso e quatro furos, morador apertado de um caseado feito por mãos pouco experiente nessa arte. Vesti mesmo assim, orgulhosa, por baixo da blusa do uniforme e saí satisfeita do quarto.

Foi então que se deu o milagre! Os adultos notaram algo diferente. Minha mãe apertou os olhos para enxergar melhor o que se amontoava em meu peito, agora livre da parede de livros. Pensou um pouco e disse gravemente divertida:

- “Hoje você não vai à escola. Troque o uniforme por outra roupa e vamos até a loja do Sr. Nagibe, para escolher a cor de um soutien.”

Suspirei aliviada!

Célia R. Marinangelo