SEMPRE É POSSÍVEL!!!!

SEMPRE É POSSÍVEL ...

Esta é uma história verídica, que escutei de uma aluna de informática aposentada, que foi professora primária.

Contou-me ela que na sua escola havia um menino, que se dizia o capeta, pois a mãe o criou dizendo isto o tempo todo, e este menino (Lucio), tendo sido filho de uma prostituta, foi criado jogado, sem amor, sem cuidados, e tido como indesejado. Ele já estava com 10 anos e não saía do 1º ano do primeiro grau.

Um dia, a diretora chamou a professora Marilia, e lhe disse:- Marília, vou colocar o Lucio na sua sala. Todas as crianças mais difíceis vão ficar por sua conta. Vamos tentar fazer algo por eles, principalmente pelo Lucio, que acredita ser o capeta e dá muito trabalho. Aliás, este parece que não dará em nada, mas vamos fazer mais uma tentativa.

A professora Marília, uma pessoa de muita fé, pediu a Deus que a orientasse, e que pudesse fazer daquele menino, um cidadão de futuro.

No dia seguinte quando os alunos entraram à sala, D.Marília deu a sua aula normalmente, observando todos eles, e o irriquieto Lucio não prestava atenção a nada, importunava os colegas, e induzia a sala a não produzir nada.

Quando terminava a aula, D.Marília pediu ao Lucio que ficasse na sala, pois precisava conversar com ele. Assustado, e acostumado a ter sempre alguém brigando com ele, já se mostrou agitado, pois era a forma de impor o seu jeito.

Ao fim da aula, todos saíram, e ele ficou. A professora pediu que ele se sentasse em uma carteira mais próxima e lhe disse:-

Lúcio, preciso da sua ajuda para por jeito nestes meninos, e quero você para me ajudar. Você será o líder da sala, e me ajudará em tudo o que eu precisar, o que acha?

Lúcio, ainda assustado, disse à professora:- Ihhhh! Fessora! Isto não é pra mim. A senhora sabe que eu sou o capeta, e não conseguiria ser melhor do que sou. Como vou ensinar meus colegas as se comportarem, se eu sou o capeta?

A professora sorriu, e disse:- Você não é o capeta coisa nenhuma. Se alguém pôs isto na sua cabeça, eu vou fazer você ver que não é nada disto. Você é um menino como outro qualquer, e tenho certeza de que gostaria de ser o chefe da turma. Sei que será um colaborador muito bom, e sei também que poderá ser um homem de bem. Aceita a minha proposta?

Lucio escorregou na cadeira, se coçou na sua roupa suja e fedorenta, que fazia todos se afastarem dele, mostrou-se inseguro, mas a professora mostrou-se segura, e passou-lhe isto. Disse-lhe então:- Olha, amanhã você vai chegar uma hora mais cedo na escola. Eu moro aqui na frente, e você vai lá para eu lhe dar roupas limpas e tomar um banho. Depois vou lhe dizer o que mais deve fazer. Se você fizer tudo direitinho, tenho certeza de que vai se sair muito bem.

Lúcio deu um salto, pegou suas coisas, e disse:- Certo, fessora. Se a senhora não tem medo do capeta, eu venho.

No dia seguinte, à hora certa, lá estava o Lúcio batendo à casa da professora. Ela o colocou para dentro, e já havia separado umas camisetas do seu marido, que é miúdo, e que serviam para um garoto de 10 anos. Deu-lhe duas camisetas, duas bermudas, um sapato e meias, e lhe disse:

- Presta bem atenção. Vou lhe dar duas trocas de roupa. Num dia você usa uma e lava a que estiver suja, e vai fazendo assim todos os dias para vir limpinho para a escola. Se não tiver chuveiro na sua casa, pode vir , traz a roupa e toma banho aqui.

Em seguida, colocou-o à mesa, deu-lhe um prato de comida, e disse que podia vir almoçar na sua casa, antes da aula, todos os dias.

Lúcio se transformou. Aquela atenção, aquele carinho, ele nunca havia recebido nem da mãe. O menino ficou deslumbrado por poder chegar na escola cheiroso, e os colegas perceberam a mudança, se surpreendendo muito. Todos comentavam a elegância e limpeza do Lùcio. Isto o fez se sentir incluído ao grupo de colegas, e passou a ser outro menino, desde então.

Na sala, a professora às vezes precisava corrigir os exercícios que o Lucio recolhia, e lhe pedia:

- Meu ajudante, pede aos seus colegas para falarem mais baixinho, pois estou sentindo dificuldade de me concentrar na correção dos cadernos.

Lúcio se dirigia à sala, assim:- Meus colegas, por favor, vamos falar baixinho, pois estamos incomodando a fessora, né? E todos obedeciam, diminuindo o volume da voz e sussurravam.

No final daquele ano, pela primeira vez o Lucio conseguiu passar para o segundo ano. D. Marília o chamou, deu-lhe os parabéns pelo seu comportamento e pelas suas notas, que tinham sido boas, e lhe disse:- Olha Lucio, você foi um ajudante muito bom! Gostei muito de ter tido a idéia de colocá-lo para meu auxiliar, e no ano que vem quero novamente que continue sendo o líder da sala, ok?

Lúcio abriu um sorriso largo, e se mostrou feliz. A professora lhe deu o boletim e disse-lhe que o levasse para a mãe assinar, e trouxesse no dia seguinte.

Lúcio saiu da sala quase correndo. No dia seguinte trouxe o boletim assinado, e disse que sua mãe chorou.

A partir daí Lúcio passou direto e terminou o primeiro grau. Nunca mais perdeu ano na escola, e como lá não tinha o segundo grau, e Lúcio já estava com quase 18 anos, D. Marília o chamou e disse:- Lúcio, você já está pronto para ser um cidadão. Terá que se inscrever no exercito, como todos os outros rapazes, e logo poderá arrumar um emprego. Acho que agora já tem condições de ser um homem de verdade. Seja sempre honesto como foi até agora, não se esqueça de Deus, como lhe ensinei, e mais tarde será um bom marido e um bom pai. Quero um dia saber que teve filhos e foi um bom pai para eles, sim?

Naquele dia Lúcio chorou, pois começava ali uma nova vida, que ele teria que enfrentar sozinho, mas estava preparado, apesar de ser muito jovem ainda.

Passaram-se mais de 20 anos, e um dia, a professora Marília, já aposentada, ao entrar em um ônibus no centro da cidade de Belo Horizonte, escutou alguém a chamando pelo nome. Procurou de onde vinha a voz, e era o motorista do ônibus que a chamava.

O senhor me chamou pelo meu nome? Como sabe que este é o meu nome?

O motorista sorriu e disse:- não me reconhece, professora? Sou o Lúcio, aquele menino de quem a senhora cuidou e ensinou a ser gente.

Marília arregalou os olhos. Não podia acreditar que ali na sua frente estava aquele menino, que se dizia o capeta, já homem feito, e trabalhando como motorista do ônibus.

... Não é possível, Lúcio! É você? Há quanto tempo não tenho notícias suas? Como está?

D. Marília, eu sempre pensava na senhora e agradecia a Deus por ter me ajudado quando mais precisava. Se não fosse a senhora, hoje eu seria um mendigo, ou um usuário de drogas, mas não. Hoje sou um pai de família, tenho esposa e filhos, e sou muito bom pai.

D. Marília encheu os olhos de lágrimas, dizendo:- Lúcio, sempre me lembrei de você e pensava onde estaria. O que teria feito da sua vida, e rezava para que estivesse bem. Que coisa boa saber que hoje, aquele menino é um homem de bem! Você não sabe como é gratificante saber que os meus ensinamentos deram bons frutos na sua vida.

Lucio disse:- D.Marília, se não fosse a senhora, eu não estaria aqui agora. Graças a Deus que alguém me ensinou o que ninguém mais teve coragem de ensinar. Já contei aos meus filhos a minha história, e falei muito da senhora para eles e minha esposa. Quero fazer deles homens de bem, como a senhora fez para mim.

Resolvi publicar esta história, pois há muitas professoras que querem ajudar seus alunos, mas não sabem como fazê-lo. Este foi um exemplo de que a professora pode ser a segunda mãe de uma criança, e tirá-la de um futuro tenebroso, tornando-a um bom cidadão. A escola depende dos seus professores, e estes têm uma missão muito importante na vida das suas crianças.

Neuza Spínola

Neuza Maria Spínola
Enviado por Neuza Maria Spínola em 16/06/2013
Reeditado em 18/08/2013
Código do texto: T4344479
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