O SENHOR DA VIDA E DA MORTE

O coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, que dirigiu o DOI-Codi em São Paulo, disse à Comissão da Verdade que lutou contra o terrorismo e que, se não fosse sua luta, a ditadura do comunismo estaria imposta até hoje e ele certamente teria ido para o paredão.

Disse também que combateu mais de 40 organizações de esquerda, entre elas quatro em que atuou a presidente da República.

Segundo o coronel Ustra a luta era contra o terrorismo. Os grupos terroristas atacavam quartéis, roubavam armas, incendiavam rádios-patrulha e explodiram dezenas de bombas.

O ex-servidor do DOI-Codi de São Paulo e ex-sargento Marival Chaves assegurou que Ustra, então capitão, comandava as torturas na repressão. Marival afirmou que Ustra era “senhor da vida e da morte”, escolhia quem iria viver ou morrer.

Presente ao depoimento do coronel Ustra, o vereador de São Paulo Gilberto Natalini (PSDB) contou na Comissão da Verdade que foi torturado pessoalmente por Carlos Alberto Brilhante Ustra, em 1972, nas dependências do DOI-Codi, na capital paulista.

Quando ainda era estudante de medicina, Natalini ficou dois meses preso. Ele contou que fazia poesias que tinham também como conteúdo temas ligados à democracia e repressão. Ustra decidiu, então, torturá-lo da seguinte maneira, segundo ele:

— O Ustra mandou me despir, me colocou em pé numa poça d´água numa cela e com aqueles fios de choque pelo meu corpo. Chamou para testemunhar vários agentes e soldados e exigiu que eu declamasse minhas poesias. Durante horas, ele, com uma espécie de vara de marmelo na mão, me batia. Outros vinham e me davam telefone (tapa com as mãos nos ouvidos) e muito choque — disse Natalini, que se emocionou em alguns momentos em seu depoimento.

O torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra na tentativa de não ser identificado, aparecia nos porões diante de torturados como o tenebroso Dr. Tibiriçá. A simples menção do seu nome causava terror.

Hoje, coronel da reserva, responde a uma ação cível, movida por cinco membros da família Teles, presos nos últimos dias de 1972 e levados ao DOI-Codi paulista, a sucursal do inferno da rua Tutóia a serviço do terrorismo de Estado.

“Ustra foi o primeiro a me dar um tapa na cara, me jogou no chão com aquele tapa. Me torturou pessoalmente”, disse Maria Amélia Teles. “Foi ele quem mandou invadir a minha casa, buscar todo mundo que estava lá, meus filhos e minha irmã. Durante cerca de 10 dias, minhas crianças me viram sendo torturada na cadeira de dragão, me viram cheia de hematomas, com o rosto desfigurado, dentro da cela. Nessa semana, em que meus filhos estavam por ali, eles falavam que os dois estavam sendo torturados. Disseram: “Nessas alturas, sua Janaína já está dentro de um caixãozinho”. Disseram também que eu ia ser morta. Isso foi o tempo todo. O tempo todo, o terror. Ali era um inferno”, relata Maria Amélia.

O marido, César Teles, já estava preso. Ambos pertenciam ao Partido Comunista do Brasil (PC do B).

Aos olhos da ditadura, motivo suficiente para sofrerem todas as bestialidades.