Lá se foram 13 anos sem você

Para ela.

Se ela disser que ainda me ama.

Ou se o mundo ainda existir.

Estou aqui, em frente a um velho computador, sentado nessa cadeira barulhenta, e com frio nas mãos. Resolvi escrever uma crônica, mas meu pensamento não sai de você, tantos 13 anos depois. Deve ser algum feitiço, ou então, bobeira de menino apaixonado. Mas é impossível esquecer tudo o que fiz, ou deixei.

Quem dera se aquele dia, no clube perto de casa, sentado no banco de mármore gelado, em frente a você, eu tivesse a malícia das crianças dos anos dois mil. Que rosto avermelhado eu tinha, que escuridão vazia no meu peito de menino. Garoto mimado, alheio a outras coisas, a não ser um futebol na rua e uma flor alaranjada, de bem me quer mal me quer.

O nosso amor era de criança. Amor verdadeiro, não como o de gente grande. Ah tempo, por que passou assim?

Tarde da noite na sexta-feira chuvosa, foi a última vez que peguei na sua mão. A tia já começara a reunião das crianças católicas, no barracão da capelinha do bairro. Fechem os olhos para rezar. Menos eu, que te admirava de canto, enquanto acariciava suas mãos de algodão.

No meio da noite, um bilhetinho no caderno de brochura azul chegava até sua mesa, ajudado por João. Nos garranchos improvisados, em três linhas, a declaração sincera. Eu te amo, namora comigo? Como se fosse fácil ter você, em plena rebeldia de oito anos de idade.

A resposta sua nunca vinha com um beijo, ou uma declaração. A resposta era do seu jeito, jeito único, lindo. Um sorrisinho meigo e um olhar para trás. Ah tempo, porque passou assim?

Na saída, uma lembrança, a última vez que olhei para você, com olhos de amor. Você foi por uma rua, e eu desci a da esquerda. Chorando, olhando, querendo te encontrar no outro dia.

E quando o sol amanheceu, fui atrás da flor laranja, a do bem me quer mal me quer. Com lágrimas nos olhos, tirei a última pétala, com a resposta negativa. Por que me esqueceu, se disse que me queria? Você não esqueceu, mas foi embora.

E dali, meus dias nunca mais foram os mesmos. As declarações sinceras nunca mais existiram, a flor laranja era esquecida, e meu pequeno coração, guardava sua lembrança. E dias se passaram até você voltar. Doce ilusão.

Agora já são 3 da manhã e eu aqui pensando em você, como fazia em tempos de primário. Daqui a pouco vou dormir, fechar os olhos e te encontrar.

Nos meus sonhos você aparece. Cabelos curtos, sorriso sincero, que me ilumina. Um anjo sem asas, pra não sair de perto de mim. Te dou minhas mãos, olho para você, em que campo lindo de flores laranjas apenas com pétalas de amor, de bem me quer, nós estamos. Que beijo inocente que nunca aconteceu.

A maior tristeza dos meus dias, há 13 anos, é abrir os meus olhos e pensar, onde está você, além de aqui, dentro de mim? E passo meus tempos procurando o campo de flores.

Minhas mãos já estão calejadas, as marcas de falsos sorrisos destacam o meu rosto. É hora de te encontrar. E ter você durante toda madrugada.

Quem sabe eu te descubra, num dia qualquer, num banco de mármore quebrado, ou no salão de uma capelinha de bairro, ou então fora dos meus sonhos.

Desculpe meu grande amor, por ainda lembrar-me de você. Mas não tenho culpa, é essa minha vida nos últimos 13 anos. Escrever sobre amor, sobre você, e ouvir o seu eu te amo, com o meu coração.

Kallil Dib
Enviado por Kallil Dib em 18/06/2013
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