Crônica da Marcha do Protesto de Goiânia - incrível, alegre e... pacífica!

Crônica da Marcha do Protesto de Goiânia - incrível, alegre e... pacífica!

Não resisti e fui à Marcha do Protesto de sexta-feira, no centrão de Goiânia.

Cheguei na Praça Cívica eram 16:40h. Muita gente chegava pela Avenida 85 e rua 10. E Quando entrei na Avenida Goiás e vi a multidão que já se aglomerava, esperando a turma que vinha subindo na marcha lá da Praça do Trabalhador, sete quilômetros abaixo, francamente, fiquei emocionado.

Meu caçula estava lá no coreto, esperando sua galera. E eu desci a avenida, fotografando o que podia, com meu celular.

Que coisa incrível, selvagem e linda, a juntada da bela e sorridente juventude goianiense nas ruas, fazendo parte de um movimento de caráter nacional, que unia todas a todos!

Era mesmo uma marcha de protesto de caráter generalizante, em relação ao estado de coisas do país, mas todos se comportavam como se estivessem numa festa. Não havia empurra-empurra, má vontade ou pose. A gentileza chegava à paciência de uma pose com o cartaz, a quem pedisse. E quem tentava melar o clima da festa, atirando bombas e foguetes eram logo isolados ("pro chão! Pro chão!” alguém gritava e todo mundo se agachava, deixando o agitador sozinho na fita...).

Duas esquinas abaixo, encontrei Wanderlei, o presidente do meu Sindicato com um largo sorriso no rosto e um euforia com tudo aquilo, com celular na não, gravando tudo, como se também quisesse encapsular dentro dos arquivos do celular um mínimo daquilo tudo que ocorria ao redor.

Na multidão que vinha subindo na passeata, se via a representação de boa parte dos movimentos e segmentos sociais: professores, punks, médicos, headbangers, anarquistas, peruas, psicólogas (oh!), sindicalistas, fazendeiros de terra e ar, jornalistas, militares reformados – ou informantes (seiscentos informantes, diziam), evangélicos, espíritas, candangos, tocantinenses, interioranos, bairristas, músicos, marqueteiros, ambulantes, deabulantes, apartidários trepidantes, partidários disfarçados, médicos, enfermeiras, gente do bairro, arquitetos, comerciantes, bagunceiros, gays, gente do povo, “vadias (não sou Joana D'Arc e vou ser dentista)”, trabalhadores, marafeiros, padres, patricinhas, skatistas, motoristas, policiais, estudantes (muitos estudantes!) e pensionistas.

Algumas autoridades foram muito visadas, no protesto – aí incluídas aquelas que andaram tendo relações um tanto perigosas com gente para lá de suspeita, nos últimos tempos ou aquelas que, às necessidades urgentes, preferiram atender o interesse de espertas entidades internacionais...

Na esquina da rua 3 com a Goiás, me aparece o estagiário Johann muito bem acompanhado, cheio de alegria e uma câmera na mão. De chofre, perguntou o que eu estava achando da manifestação. Não sei bem o que disse sendo filmado, mas me lembro de ter declarado de que aquela era a manifestação emocionante e cheia de energia que eu havia visto e que eles estavam de parabéns, pela incrível manifestação de cidadania.

Seguimos. E lá embaixo, encontramos uma senhorinha dos cabelos brancos e uma imensidade de flores nas mãos, que ganhara com sua simpatia dos meninos e meninas da passeata. Veio nos cumprimentar, informando que já fora da diretoria do STIUEG e tirar fotos.

Chegando ao cruzamento da Avenida Goiás com a Avenida Anhanguera, notei que a estátua do diabo velho (e verde) ganhara a companhia de duas gárgulas humanas. Uma delas, estava no alto da pilastra da luminária, exibida e sinistra, de roupas escuras e rosto coberto (provavelmente um dos membros das três torcidas organizadas que haviam combinado de "agitar" o evento - Goiás, Vila Nova e, Atlético) que parecia uma mistura de um desenho de um ninja do Frank Miller com o Cavaleiro das Trevas da capa de “Batman Noir – 1900” e, do outro lado, alguém coberto com a bandeira do Brasil, ar misterioso, usando a máscara do personagem V, de “V de Vingança” do Alan Moore, imóvel, sob a luz, com um cartaz contra a PEC 37 (que, pelo jeito, já foi!...).

Wanderlei, me disse que estava sentindo falta de algo - os ambulantes, dos refris e cervejas, ao que objetei jocosamente que ali não era estádio, nem copa do mundo. Mas, não demorou nada, e eles começaram a aparecer. E começamos o nosso porre de alegria...

E aí, começaram a passar alguns grupos com aquelas palavras de ordem infantis, irritantes e manjadas, que não tinham nada do espírito do tempo e do momento.

À noitinha, já não cabia mais ninguém por ali, e andávamos entre os presentes, fotografando cartazes, conversando com todo mundo. Aqui e ali, alguns velhinhos, naquela de profetas do passado, discursavam para ninguém a velha cantilena socialista, com um sotaque típico dos candangos – eles, estudantes ou velhacos, estão sempre por aqui, em certos eventos...

Um pouco mais acima, apareceram duas figuraças vestidas da versão do homem aranha do cinema de 2007 e 2013. Meu filho e meu sobrinho pegaram meu celular e foram lá, no clima de festa, tirar fotos com eles num banco da avenida, pra mandar logo pro Facebook. E aí, uma multidão cercou os aracnídeos, também para tirar fotos com eles.

Chegando ao coreto, duas meninas acharam graça no presidente do SINTRANGO e, pediram para tirar fotos com o "tio". E na pista interna, os anarquistas faziam uma espécie de instalação, com gente deitada na rua, simulando a morte, cercada por cartazes. Um deles começou com um discurso batido, atacando os que assistiam à performance, chamando todo mundo de mauricinho e coisas do tipo. Foi quando um deles, lá do bairro, saiu do meio da multidão e o desancou até que ele pedisse desculpas (anarquistas moralistas só tinha que sobrar numa manifestação dessas).

Mas, aí, veio o carro de som da organização, cujos líderes resistiram bravamente à ideia de levar a passeata para os lados da Assembleia Legislativa (pois já estavam informados da intenção das torcidas organizadas no quebra-quebra) e, dirigiram a passeata para a Avenida 85, pois ali já não havia mais o que apresentar.

Percebendo que chegara a hora da pancadaria, me despedi de todos e, junto com meu filho, desci a Rua 10, por onde muita gente ia deixando o local.

Já em casa, tomei conhecimento da confusão e pancadaria da Assembleia Legislativa, pela televisão.

Mas, dormi pensando no significado e na repercussão deste movimento que tem tudo de autêntico e muito de democracia direta e organização internáutica e viral.

O que estarão pensando os que os que achavam que tinham estabelecido um aparelho perfeito de direcionamento dos movimentos sociais e demandas do povo?, eu pensava, lembrando que, alguns dias atrás, Marilena Chauí havia declarado, num formidável atestado de assincronia, na presença de um ex-presidente da república, o seu ódio à classe média.

O que aconteceu e está nas ruas, para mim, nasceu justamente da classe média - aquela que não faz negócios milionários com o governo, tem acesso à informação e não está no cabresto do bolsa isto e aquilo...

Vindo para o trabalho, passei para ver o que tinha sucedido ao prédio da AL e avistei à distância o Oloares Ferreira ("Balança, Goiás!"), nas imediações. Mas, pelo que vi, nenhum vidro havia sido quebrado - a PM havia dado conta do recado e botado as organizadas (que estão proibidas de ir aos estádios goianos) pra correr...

Na passeata, eu levava sobre minha camisa:

"você não sente?

é o vento da mudança ~

neste fim de outono"

E continuo pensando assim. Algo de importante surgiu - e veio de quem não se esperava: da juventude de classe média brasileira.

Ou, como dizia um deles, no cartaz, de forma irônica, jocosa e divertida:

"Eu podia estar em casa jogando no meu playstation 3, mas vim mudar o Brasil"..

Checando a Internet, vejo que a meninada já discute o “day after” das manifestações vitoriosas, já referindo às próximas eleições – o sinal claro de que sabem o papel de cada coisa e momento...

Goiânia, 21.06.2013, às 18:26h.

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Em 22.06.2013: muita gente veio me dizer que o movimento não tinha nada de espontâneo, nem apartidário, tendo em vista a origem e a filiação partidária de seus membros e tinha uma face mezzo pacífica meio violenta que era fruto de combinação e tal...

Mas, eu vi a multidão da Avenida Goiás e do Brasil repudiá-los, a certa altura dos acontecimentos e das manifestações.

E o que eu tenho a dizer é isto o PSTU, PSOL e outras dessas grotescas agremiações marxistas foram no vácuo do esvaziamento da força do PCdoB no movimento estudantil e, é claro, tudo o que querem os cargos das entidades estudantis, para, entre outras coisas, viverem à tripa forra, com recursos da União. Mas...

...faltou combinar com o negócio com a juventude do Brasil.

A causa agora é mesmo popular. O povo não é exatamente apartidário, pois faz escolhas políticas a cada eleição. Mas, a maioria não reza pela cartilha de nenhum partido e, o que querem é gente capaz e honesta na política e nos cargos públicos.

O PSTU e aquelas esquisitices de partidos vão conseguir o que esperam – isto e, tomar as entidades de base do movimento estudantil, depois deste movimento, para começar a desejada ascensão ao mundo das vantagens decorrentes do exercício de cargos da UNE? Provavelmente.

Mas, para mim, o cantar vai partir de galos que foram transformadas em galinhas, no decorrer do movimento de protesto.

- Abaixo a PEC 37. E viva a juventude brasileira, linda e internáutica!

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Os políticos estão com um problemão agora: aprender a pensar e agir rápido – coerência no meio. Problema deles. O nosso problema é escolher nossos representantes entre eles. Um problemãoo, também...