Exclusivo para mulheres

Você, mulher, quer realmente saber o que acontece no universo masculino? Então preste atenção no meu depoimento, esta é uma história verídica e, sem temor de represálias eu apresento a maneira de pensar do cromossomo X.

Ela era o que mais existia de perfeito e intangível em toda a extensão de minhas sensações, eu escrevia novelas no pensamento onde nós contracenávamos como protagonistas, do alto dos meus 19 anos eu não cogitava sequer a hipótese de uma aproximação íntima. Na primeira saída eu queria ser o ápice de toda a noite, não encontrei brecha alguma, só existia aquela presença reluzente que eliminava qualquer distração momentânea, tentei expressões corporais, danças idiotas, poses de James Dean, nada chamava a atenção.

Era a princesa e o plebeu, ela, flutuando no lugar onde já vivera situações muito mais divertidas e agradáveis e eu, bem... eu totalmente destoado como o diplomata que comete aquela gafe que resulta num incidente intercontinental. A noite acabou e eu me sentia como o mendigo que cruzava o fast food. Uma semana depois nós conversamos (ou melhor, navegamos) via internet, a única certeza que eu tinha era que meu sentimento crescia e que eu tinha de provar pra ela que não era apenas dentro das calças. Eu estava sem sentidos, sem direção, sem minha cerveja companheira naquele momento de desabafo. Tudo era irrelevante, minha procura por emprego, o flamnego quase na segunda divisão, o quarto bagunçado, enfim, só existia a imagem do sorriso dela quase me induzindo à loucura.

Um belo dia, numa véspera de feriado (pra mim era feriado todo dia), toca o telefone, eu sabia que ela ligaria, eu não era assim tão repulsivo, eu era um deus grego, um desbravador, um guerreiro, eu era... um idiota agoniado esperando um convite. E o convite veio como um raio fulgurante naquela voz de veludo:

-O que se faz nesta cidade num feriado?

-Sei lá, acho que todo mundo foi pra praia...

Um silêncio estúpido de minha parte tomou conta da conversa até que num raro momento de coragem eu sei o passo seguinte:

-E se a gente saísse pra algum lugar?

-Tudo bem, te espero no centro...

Te esperaria nem que fosse no vesúvio, te queria, eu queria... ligar pra todo mundo pra dizer que a gente ia se encontrar de novo. Fiz um cronograma detalhado entre a minha ânsia de vê-la e a paciência que ela teria de me esperar. Acabei chegando a um tempo estimado de uma hora, que acabou virando em duas horas e uns quebrados, depois do chuveiro falhar, o ônibus atrasar, o trânsito cooperar com a minha raiva de maneira negativa, finalmente lá estava ela, da maneira como eu imaginava, resumindo, ela estava lá e pronto, não importava mais a hora, o atraso, o lugar, a falta de segurança da minha parte, nada mais tinha motivo, então, aquela voz afrodisíaca manifestava-se pelo meu cérebro:

-Que tal um cigarro?

-Claro.

-Você tem fogo?

-Sempre, quer provar?

Eu confesso que nunca imaginei que tamanha cantada ridícula fosse dar certo, meu bisavô seguramente usou este termo para conquistar sua amada enquanto ambos provavelmente dividiam um rapé. Eu sabia que era um caminho sem volta mas, antes uma certeza catrastófica no lugar de uma dúvida corrosiva, aliás, certeza esta que persiste até os dias de hoje, já que eu tive a sorte de conseguir o tão utópico beijo no lugar da bofetada.